
“O ser humano só se torna real quando encontra um outro que o reconhece.” (D. Winnicott)
A política não nasceu para governar, mas para conviver.
Antes de ser instrumento de poder, foi a arte de sustentar o comum, o espaço simbólico em que o humano se reconhece no outro e encontra sentido na convivência.
A verdadeira política surge quando a palavra substitui a força e a escuta se torna forma de responsabilidade. É nesse território que se tece a civilização: no pacto silencioso de que a diferença não é ameaça, mas possibilidade.
Com o tempo, a política deixou de ser espaço de encontro e tornou-se palco de disputa. Passou a servir ao cálculo, à narrativa e ao controle. As palavras, antes mediações, viraram armas. O adversário transformou-se em inimigo, e o diálogo cedeu lugar à retórica do poder. Ao confundir política com domínio, esquecemos sua essência: preservar o vínculo que nos permite existir em conjunto. Quando o outro deixa de ser interlocutor e vira obstáculo, o sentido humano da política se perde.
A Psicologia Social ensina que toda relação saudável nasce do reconhecimento mútuo. A política não é diferente: adoece quando o outro deixa de ser sujeito e passa a ser objeto, como algo a ser usado, convencido ou eliminado. O mal político é, antes de tudo, um reflexo do mal relacional. Onde não há empatia, não há república; onde não há alteridade, o poder se converte em patologia.
Temos vivido tempos sombrios na aplicação do conceito de política.
Necessário se faz persistir no desafio contemporâneo de resgatar sua dimensão ética, devolvendo-a ao campo da escuta, do diálogo e da responsabilidade coletiva.
A política que esquecemos não é a dos partidos, mas a das presenças: a consciência de que cada decisão, gesto ou omissão interfere no tecido que nos sustenta.
Governar, afinal, começa pelo modo como habitamos as relações. Não se trata de administrar interesses, mas de cuidar do que nos mantém humanos em convivência.
E é por isso que, neste momento em que o Brasil recebe o olhar do mundo na COP, o tema central não é apenas o clima, deve ser a coerência e a responsabilidade humana.
De nada serve falar em sustentabilidade, coerência e em ecologia se não soubermos praticar a verdade.
De nada adiantam metas se não aprendermos o valor do vínculo entre os homens e a mãe natureza.
A política que esquecemos é também a que o planeta espera reencontrar: aquela que nasce do encontro entre verdade, responsabilidade e coragem de permanecer humano em meio ao poder.
Vera Helena Castanho é Psicoterapeuta em Base Analítica.



