
Muitas vezes temos a sensação de que o mundo está se transformando numa velocidade cada vez maior. Um novo aplicativo aparece, uma inteligência artificial revoluciona a produtividade, medicamentos inovadores são desenvolvidos em tempo recorde, e as mudanças no trabalho, na economia e na sociedade parecem incontroláveis. Não é raro pensar: “Será que estou envelhecendo e por isso tenho essa percepção que a evolução da tecnologia está avançando a cada dia que passa numa velocidade mais rápida, ou de fato é a realidade?”.
A verdade é que essa percepção não é apenas fruto da idade ou de um olhar subjetivo. É um fato mensurável e estudado por pensadores como Buckminster Fuller e Ray Kurzweil: o conhecimento humano e a tecnologia realmente estão evoluindo em ritmo exponencial.
Em 1982, o arquiteto e futurista Buckminster Fuller apresentou a ideia da “Knowledge Doubling Curve”. Ele observou que até o ano 1 d.C., o conhecimento humano dobra aproximadamente a cada 1.500 anos. Durante a Idade Média e o Renascimento, esse tempo caiu para 250 anos. Já no final do século XVIII, em plena Revolução Industrial, o conhecimento dobrava a cada 100 anos.
No início do século XX, as estimativas apontavam para uma duplicação a cada 25 anos. Com a chegada da era digital e da computação, esse intervalo se reduziu para 10 anos. Hoje, segundo estudos e projeções, o conhecimento humano dobra a cada 12 a 18 meses em média, com algumas áreas — como biotecnologia e inteligência artificial — dobrando em menos de um ano.
Ou seja, não se trata de mera impressão: estamos realmente vivendo em um turbilhão de aceleração tecnológica.
O inventor, cientista e futurista Ray Kurzweil expandiu as ideias de Fuller e as traduziu na chamada “Lei do Retorno Acelerado”. Segundo ele, o progresso tecnológico não cresce de forma linear, mas exponencial.
Kurzweil explica que quando uma tecnologia avança um passo, esse avanço cria a base para que o próximo aconteça em metade do tempo. Assim, o ritmo da mudança vai se tornando cada vez mais veloz, criando a sensação de que “o futuro está chegando mais rápido do que esperávamos”.
Para ilustrar, ele compara o desenvolvimento de computadores:
a- O primeiro computador ocupava uma sala inteira e custava milhões de dólares.
b- Hoje, o poder de processamento de milhares desses computadores cabe em um smartphone que carregamos no bolso, por um preço acessível.
c- E segundo as projeções, essa capacidade vai continuar crescendo até superar a inteligência humana em várias dimensões ainda nesta década.
A sensação subjetiva que muitos têm — de que o tempo está “mais rápido” — está diretamente relacionada a essa realidade objetiva da aceleração exponencial. Alguns fatores explicam:
1- Conectividade constante: Vivemos plugados em redes sociais, mensagens instantâneas e fluxos intermináveis de notícias. A informação nunca esteve tão acessível, e o excesso cria a percepção de que tudo acontece de uma vez.
2- Disrupções sucessivas: Antes, a inovação demorava gerações para impactar o dia a dia. Hoje, novas tecnologias mudam nossas rotinas em questão de meses. Pense no salto da máquina de escrever ao computador: foram décadas. Mas do computador ao smartphone? Poucos anos. E da inteligência artificial generativa (como o ChatGPT) ao uso corporativo em massa? Menos de dois anos.
3- Globalização da inovação: Descobertas científicas não ficam restritas a um laboratório ou país. São compartilhadas em tempo real, acelerando colaborações e multiplicando impactos.
4- Efeito cumulativo: Cada inovação serve de base para outras, criando um efeito em cascata. A internet possibilitou o e-commerce, que gerou big data, que impulsionou a inteligência artificial, que agora abre caminho para a biotecnologia personalizada.
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a- Medicina: O sequenciamento do genoma humano levou 13 anos e custou bilhões de dólares. Hoje, um exame genético pode ser feito em horas por algumas centenas de dólares.
b- Inteligência Artificial: Sistemas que há cinco anos eram limitados agora escrevem textos, produzem imagens, compõem músicas e auxiliam em diagnósticos médicos.
c- Energia: O custo da energia solar caiu mais de 90% em duas décadas, transformando-a na fonte mais barata em várias regiões do mundo.
d- Comunicação: Em 2007 não existia iPhone. Hoje, bilhões de pessoas no planeta não conseguem imaginar a vida sem smartphones.
Esses exemplos mostram que a aceleração não é apenas teórica: ela já está moldando nosso presente.
Buckminster Fuller acreditava que o crescimento exponencial do conhecimento deveria ser direcionado para resolver os grandes desafios da humanidade: pobreza, desigualdade, energia limpa, habitação. Sua famosa frase resume bem: “Não estamos num jogo de soma zero. Ou todos vão ganhar juntos ou ninguém vai ganhar.”
Ray Kurzweil, por sua vez, destaca que a singularidade tecnológica — ponto em que máquinas superam a inteligência humana em muitas áreas — pode representar tanto uma ameaça quanto uma oportunidade. A chave, segundo ele, está em como a sociedade vai gerir essa aceleração.
Se o conhecimento dobra a cada ano, a nossa capacidade de adaptação precisa acompanhar esse ritmo. Isso exige:
a- Educação contínua: O aprendizado não pode mais ser concentrado nos primeiros 20 anos de vida. Precisamos reaprender constantemente.
b- Mentalidade flexível: Resistir à mudança é improdutivo. Quem se adapta primeiro, lidera.
c- Ética e governança: Novas tecnologias trazem riscos (privacidade, manipulação de dados, impacto no trabalho). Regras claras são urgentes para evitar abusos.
d- Equidade no acesso: Se o conhecimento cresce exponencialmente, mas o acesso continua desigual, aumentaremos ainda mais o abismo social.
O sentimento de que a tecnologia está avançando a uma velocidade sem precedentes é real e fundamentado. Buckminster Fuller mostrou com a curva da duplicação do conhecimento, e Ray Kurzweil reforçou com a lei do retorno acelerado, que vivemos em uma era de transformações exponenciais.
O que antes levava séculos, agora acontece em anos, meses ou dias. E o grande desafio da humanidade não é deter essa aceleração — porque isso é impossível —, mas sim aproveitá-la para construir um futuro mais justo, sustentável e humano.
A pergunta que fica não é se a tecnologia vai continuar acelerando, mas “como nós vamos escolher usá-la.”
Se você também sente que o tempo corre mais rápido, saiba que não é apenas impressão. É a realidade do nosso século. A aceleração tecnológica é o motor do presente e do futuro, e nossa missão é aprender a guiar esse motor na direção certa.
Bruce Grant Geoffrey Payne Glazier
Membro Externo e Presidente do Conselho Consultivo da Fex Agro Comercial
Diretor da Valoradar
Trabalhou nos Bancos Lloyds, Singer & Friedlander e Mizuho e nas empresas Abril, Suez Environment, TCP Partners e BTG Global
Membro de Conselho certificado pela Fundação Dom Cabral
Mestrado em Finanças pela London Business School
Bacharelado em Economia e Ciências Políticas pela Northwestern University
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