
Aproveitando o reparador descanso do fim de semana, revi Sob o Sol da Toscana, um daqueles filmes que, sob a leveza de suas cores e cenários deslumbrantes, escondem mensagens profundas sobre a vida. Não foi apenas a beleza da Toscana que me chamou atenção, mas a forma como a narrativa revela, de modo delicado e simbólico, a coragem necessária para recomeçar, a abertura ao inesperado e a capacidade de transformar ruínas em novos começos. Nesse filme, lições além da tela dialogam diretamente com os desafios que cada um de nós habitualmente encontra pelos caminhos da vida. Vale pena assisti-lo, ou revisitá-lo, permitindo-se reflexões que vão além da ficção.
Há momentos na vida em que tudo parece ruir: planos desfeitos, certezas em pedaços, caminhos sem direção. É nesse espaço de vulnerabilidade que surge a chance mais profunda de recomeço.
Em Sob o Sol da Toscana, Frances descobre que não é preciso ter todas as respostas para seguir adiante. Basta um gesto de coragem, abrir a porta para o inesperado, ainda que pareça insensato, como comprar uma casa em um lugar estranho.
A vida, afinal, não se reconstrói pela rigidez dos planos, mas pela delicadeza dos encontros, pela beleza dos detalhes, pelo afeto que nasce quando menos esperamos. Quando percebemos e permitimos que a vida siga em suas sutilezas, sem o peso do controle total.
O desejo ou a tendência de mantermos tentativamente o poder absoluto sobre a vida é um boicote frontal à felicidade, que, pelo contrário, torna-se possível de ser vivenciada pela coragem de recomeçar, pelo acolhimento ao imprevisto e pela permissão de transformar-se pelo caminho. O filme nos lembra que felicidade não é destino, é cultivo. Que o inesperado pode ser um presente disfarçado. E que recomeçar, mesmo em meio às ruínas, pode nos devolver a nós mesmos.
No fim, o que o filme nos traz é simples e profundo: que a vida floresce na coragem de se abrir ao inesperado, na atenção às pequenas belezas e no afeto que compartilhamos. Que mesmo em meio às ruínas, há sempre espaço para recomeçar, para sentir, para crescer e para se reencontrar. E que cada passo dado com coragem e sensibilidade nos aproxima de uma vida mais plena, mais leve e mais verdadeira.
Vera Helena Castanho é Psicoterapeuta em Base Analítica.