Receita para irritar a torcida

O torcedor tem absoluta, plena, total razão em estar irritado – às vezes revoltado mesmo – com os abusos provocados. [...]

 O torcedor tem absoluta, plena, total razão em estar irritado – às vezes revoltado mesmo – com os abusos provocados por jogadores, árbitros, VAR, auxiliares de árbitros, comissões técnicas e atletas reservas nos túneis, gandulas dos estádios (levados pelos clubes), e, porque não, pelos que são obrigados a administrar corretamente o futebol e não o fazem. E o que fazem é, por omissão, deixar a torcida irritada.

Quem vai aos estádios ou assiste aos jogos do Campeonato Brasileiro pela televisão, se vê refém dos absurdos que ocorrem em campo e é obrigado a assistir à insuportável “cera” dos jogadores (principalmente dos goleiros), ao “cai-cai” provocador de atletas, simulações de todo jeito, cerco demorado ao árbitro em todas as faltas marcadas.

Tem mais. Tem o enervante empurra-empurra em qualquer escanteio, os gramados ruins, pênaltis marcados e quase impedidos de cobrança por causa das longas discussões dos atletas com os juízes, gandulas também participando da “cera”, a demora na cobrança dos laterais, as confusões quando da aplicação dos cartões amarelo ou vermelho, o falatório inútil e demorado de árbitros com os jogadores nas faltas, a execução (sem o menor sentido) do hino nacional em todos os jogos e, pior de tudo, o sempre catastrófico VAR. E tudo ocorre sem a menor perspectiva de solução.

Há dias ocorreu um alvoroço na mídia por causa da decisão correta do árbitro Flávio Rodrigues de Souza, que aplicou a regra e expulsou o goleiro Léo Jardim, do Vasco, aos 40m do segundo tempo na partida contra o Inter pela rodada 17 do Brasileirão, dia 27 de julho, no Beira-Rio, Porto Alegre.

Por ter cumprido rigorosamente a regra, o árbitro foi massacrado pelo comando do clube carioca, que alegou estar o goleiro com uma “contusão nas costas” e não poderia ser expulso. O juiz relatou que já havia advertido verbalmente o goleiro pela demora na reposição da bola. O atleta continuou fazendo “cera” e levou o amarelo. Na terceira vez, o vermelho. Tudo correto, cumprindo a regra. Um exemplo a ser seguido

O curioso é que este goleiro do Vasco, Léo Jardim, tem histórico quando o assunto é “cera”, situação que os goleiros chamam de “pedido para atendimento” médico. O portal “GE”, do Grupo Globo”, criou um ranking que mostra a relação dos goleiros que mais usam o “tempo de atendimento” em campo, com números até a rodada 17 do Brasileiro. Pois bem. Léo Jardim, o expulso, é o 2º colocado do ranking, Ele teve seis atendimentos que consumiram 11m25s em jogos. O líder do ranking é o goleiro Rafael, do São Paulo, que pediu, em 17 rodadas, oito atendimentos que consumiram incríveis 14min em jogos. É a prática daquilo que o torcedor chama popularmente de “cera” (a pesquisa do “GE” não faz distinção entre o que pode ser “atendimento” ou “cera”).

Há outros números sobre o tempo de jogo que os goleiros consomem em paralisações. O levantamento revela que nas 17 rodadas pesquisadas 26 goleiros de diferentes equipes pediram atendimento, atingindo um total de 92 paralisações, que consumiram 2h29m18s de interrupções em partidas, fato que, logicamente, provocaram irritação no público.

Ao se analisar a pesquisa sobre o comportamento dos goleiros, números que merecem atenção são os seguintes: das 92 paralisações para atendimento, citadas acima, 84 delas  (91%) ocorreram exatamente quando a equipe do goleiro em “atendimento” estava vencendo ou empatando jogos. E em apenas incríveis 8 partidas (9%) quando o time estava sendo derrotado. Tudo isto só em relação a goleiros.

Das questões do futebol brasileiro que mais irritam a torcida nos estádios ou dos que assistem aos jogos pela TV, a campeã da insatisfação popular é o VAR. O ex-jogador Walter Casagrande resume o grave problema de forma simples: “O VAR, no Brasil, fica em todos os jogos tentando, de todas as formas, procurar “pelo em ovo”, em todas as jogadas, com um único intuito: anular o gol”.

Há, sim, um clamor geral em todos os segmentos do futebol contra a repugnante ingerência do VAR nas partidas, forçando árbitros a voltar atrás nas decisões tomadas dentro de campo, notadamente em lances inconclusivos. O gol lícito se transforma em ilícito por ordem do VAR e por causa da posição do arbitro.

Foi o caso recente da partida Cruzeiro x Santos, no Mineirão, domingo último. Um gol do time mineiro, que poderia até significar a vitória, foi confirmado pelo árbitro Wilton Sampaio, que acompanhou todo o lance a poucos metros da jogada e não havia constatado qualquer irregularidade.

Mas o juiz do VAR remexeu as imagens até encontrar uma suposta falta (que não existiu) e impôs sua vontade: anular. Fraco, o árbitro Wilton Sampaio obedeceu e anulou o gol. Como não havia qualquer outro motivo para anulação da jogada, talvez o árbitro Wilton tenha é ficado com receio de ser expulso de campo por Neymar.

E a CBF, como sempre, em silêncio

Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor