
O Brasil não tem nenhum Prêmio Nobel. Não por falta da capacidade ou de criatividade, mas pela profunda desorganização em nosso sistema universitário e de produção científica, e falta de representatividade do país na comunidade cientifica internacional.
O Brasil, com a 7ª população do mundo e a 10ª economia mundial, nunca foi laureado com um Prêmio Nobel.
No mundo, 83 países já foram laureados com o Prêmio Nobel. Dos 1,262 Prêmios Nobel até hoje, os 10 primeiros países são os seguintes: Estados Unidos com 428 Prêmios Nobel; Inglaterra 145; Alemanha 116; França 79; Suécia 34; Japão 33; Rússia 30; Canadá 29; Suíça 27; Áustria 25. A Índia está em 19º lugar com 13 Prêmios Nobel; a China em 23º com 8. Na América Latina, a Argentina lidera com 5 Prêmios Nobel; México 3; Chile 2; Colômbia 2; Guatemala 2; Venezuela 2; Costa Rica 1; Peru 1. Já foram laureados, com 1 Prêmio Nobel, Bangladesh, Gana, Iraque, Líbano, Marrocos, Nigéria, Palestina, Tanzânia, Vietnam, dentre outros. O Brasil, nem um.
No Brasil, tudo é muito desorganizado. No dito popular, aqui impera a “bagunça”. A desorganização está no executivo, no legislativo, no judiciário, na saúde, na educação, no futebol. Acho que não é preciso enumerar mais. Os únicos setores organizados no Brasil são o financeiro, o agronegócio, a mineração, e a Embraer. E a nossa música, no esplendor de sua criatividade, como diz Roberto DaMatta em “O que faz do brasil, Brasil”, o primeiro com b minúsculo da nossa economia e do nosso social, o segundo com B maiúsculo de nossa música e valores culturais. É o país do Carnaval, onde somos inigualáveis.
O “Times Higher Education” (em Washington), o mais renomado dos rankings mundiais, apresenta três classificações. No “World University Rankings”, que mede o posicionamento geral das Universidades, a USP encontra-se no grupo 200-250; UNICAMP 351-400; as Federais do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e a UNESP 601-800; a Federal de Minas Gerais, PUC-Rio, e UNIFESP 801-1000. No “Impact Rankings”, em sua importância no mundo para a região, a USP posiciona-se em 101-200. No “Reputation Rankings”, no recall das Universidades, a USP posiciona-se em 101-150. No “US News Global University Rankings” (em Washington), a USP situa-se na posição 146 no mundo, UNICAMP 380; no “QS University Rankings” (em Londres), em 108; e no “ARWU – Academic Ranking of World Universities” (em Shangai), em 101-150.
No PISA, que mede o desempenho de alunos do ensino médio em 81 países, o Brasil encontra-se na 52ª posição em leitura, 61ª em ciências, e 65ª em matemática, em quadro desolador.
O problema de nosso sistema de ensino em geral, universitário e de produção científica, é a descontinuidade das políticas educacionais e intermitência dos investimentos. Como dizia Einstein, “a ciência é 5% de inspiração e 95% de transpiração”. Falta-nos a “transpiração” institucional, no descaso pelo conhecimento e ausência de políticas educacionais e de produção cientifica.
Certamente que por vezes se destacam valores individuais, como foi Cesar Lattes na Física, como Marcelo Viana na Matemática com o Prêmio Louis D. do Institut de France, e Miguel Nicolelis na Neurociência, dentre outros. Mas, no Prêmio Nobel, temos pouca influência acadêmico-institucional para fazer prevalecer nossos cientistas e nossas indicações.
No geral, como pode um país querer ter representatividade cientifica e cultural no mundo com tais rankings e indicadores? A lógica, no Brasil, é de cartelização do ganho, independentemente do conhecimento que se tenha ou que se possa ter, ao invés da geração de conhecimento e inovação na ciência e tecnologia para a geração de bens e do bem-estar social.
E por aqui vamos ficando.
Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago



