O futebol brasileiro e seus gênios

A rica história do futebol brasileiro reserva em suas páginas um espaço muito especial, nobre mesmo, para quatro de [...]

A rica história do futebol brasileiro reserva em suas páginas um espaço muito especial, nobre mesmo, para quatro de seus geniais personagens: Pelé e Garrincha em campo, Nelson Rodrigues e João Saldanha na mídia. Nunca é demais falar sobre eles, que encantaram multidões seja na arte de jogar bola ou na beleza da construção de textos magníficos.

Contista, cronista de costumes, jornalista, escritor, teatrólogo, romancista e considerado o mais influente dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues (1912/1980) também revolucionou o modo e a criação de textos em crônicas sobre futebol. Sua coluna semanal na ótima revista “Manchete Esportiva” (1955/1959), sob o título “Meu personagem da semana”, era aguardada com extrema curiosidade por milhares de leitores.

Como também aguardava-se com intensa procura nas bancas a chegada do jornal “Ultima Hora”, no qual Nelson escrevia, diariamente, crônicas curtas sobre a tragédia do cotidiano brasileiro em “A vida como ela é”, que tem 100 destas histórias publicadas no livro de mesmo nome. É imperdível. Aliás, a vida de Nelson Rodrigues está no magnifico livro “O Anjo Pornográfico” e a de Garrincha no também excelente “Estrela Solitária”, ambos de Ruy Castro

Autor de frases memoráveis, Nelson Rodrigues tinha o dom de retratar as imagens de um lance de jogo em textos admiráveis. Dizia ele: “A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque”.

Sobre Pelé, o texto a seguir é de uma criatividade magnifica do estilo Nelson Rodrigues de escrever: “Olhem Pelé, examinem suas fotografias e caiam das nuvens. É, de fato, um menino, um garoto. Se quisesse entrar (no cinema) num filme de Brigitte Bardot, seria barrado, seria enxotado. Mas reparem: é um gênio indubitável. Digo e repito: gênio. Pelé podia virar-se para Miguel Angelo, Homero ou Dante e cumprimenta-los, com íntima efusão: “Como vai, colega?”.

Sobre Garrincha, outro ídolo de Nelson, o dramaturgo cria esta pérola de texto: “Nos acrobatas chineses o que existe é o esforço, é a técnica, é o virtuosismo, ao passo que Garrincha é puro instinto. Possui uma riqueza instintiva que lhe dá absoluto destaque sobre os demais. Até Deus, lá do alto, há de admirar-se e há de concluir: – “Esse Garrincha é o maior”. O “seu” Mané não trata a bola a pontapés, como fazem os outros. Não. Ele cultiva a bola. Como se fosse uma orquídea rara”.

Torcedor histórico do Fluminense, a Nelson Rodrigues não interessava saber qual clube era maior. Sentenciou: “Grandes são os outros. O Fluminense é enorme”. Sobre as “coisas” que giram em torno do futebol, disse: “No futebol, o pior cego é o que só vê a bola”.

Assediado com perguntas sobre se era tarado ou santo, gênio ou louco, reacionário ou revolucionário, Nelson retruca: “Sou reacionário. Minha reação é contra tudo o que não presta”. Realmente, notável.

Neste espaço, citamos três de quatro personalidades geniais do futebol brasileiro. Falta um, João Saldanha. Sobre ele, dedicaremos uma próxima coluna.

Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor