
Conta a estória que na maestral Ouro Preto do século XVIII, o vigário da Nossa Senhora do Pilar e o vigário da Nossa Senhora da Conceição disputavam uma imagem da Virgem Santa para as suas igrejas. O vigário do Pilar propôs então que amarrassem a Santa no lombo de um burro, e para onde o burro fosse a paróquia ficaria com a imagem. E em assim acordado, o burro dirigiu-se, de pronto, para a basílica do Pilar. É que o burro era do vigário do Pilar, o que ficou conhecido como o Conto do Vigário!
Outra estória é a do Santo do Pau-oco, levado por tropas de mulas para a venda no Rio de Janeiro como expressão do barroco mineiro, mas ocos por dentro e recheados de ouro. Ou seja, santo por fora, não tão santo por dentro.
Minas é a média do país, e o Brasil assim também responde.
No Brasil, nossos políticos estão mais para o Conto do Vigário do que para a eficiência econômica de Adam Smith, ou da representatividade de Rousseau.
Há 15 anos o PIB do país não sobe, parado na casa dos US$ 2,2 trilhões, enquanto todo o mundo anda para a frente. No PIB, somos a 9ª economia mundial. Na renda per capita, a 80ª posição. No PISA, que mede a qualidade do ensino médio para 81 países, estamos em 65º em matemática, 61º em ciências, 52º em leitura e compreensão. No IDH, índice que mede a qualidade de vida, 84ª posição. No índice de GINI, que mede a distribuição de renda, estamos na 190ª colocação. No Elite Quality Report, estamos na 95ª posição.
Como na música de Carlos Lyra:
“O Brasil é uma terra de amores
Onde a brisa fala amores
Em lindas tardes de abril
Correi pras bandas do sul
Debaixo de um céu de anil
Encontrareis um gigante deitado
Santa Cruz… hoje o Brasil
Mas um dia o gigante despertou
E dele um anão se levantou
Era um país subdesenvolvido”
Ou nas palavras de De Gaulle após sua visita ao Brasil, “ce n’est pas un pays sérieux”.
No Brasil, a retórica é boa, mas o remédio é amargo.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus