O Código de Ética 24/7: como a vida pessoal do CEO afeta o ESG em Empresas Familiares

o mundo corporativo de hoje exige que a liderança seja um farol de ética e responsabilidade a todo momento. [...]

No universo das empresas familiares, a distinção entre o pessoal e o profissional sempre foi tênue. As decisões do negócio muitas vezes se misturam com as dinâmicas da família, criando um ecossistema único de valores e desafios. No entanto, em um cenário global onde os critérios ESG (Ambiental, Social e Governança) ganham cada vez mais peso, essa fusão adquire uma nova e crucial dimensão. A pergunta que se impõe é: um CEO pode realmente “tirar a camisa” da empresa depois do expediente? A resposta, à luz dos acontecimentos recentes, é um sonoro não.

Recentemente, dois casos de grande repercussão ilustraram de forma contundente o impacto que a conduta de um líder, mesmo em sua vida privada, pode ter na reputação e nos valores de uma empresa. Piotr Szczerek (o caso do roubo do boné das mãos de um jovem), cofundador e CEO da Drogbruk na Polônia, e Andy Byron (o caso da mão na botija durante o show do Coldplay), CEO da Astronomer nos EUA, viram suas carreiras e a imagem de suas companhias abaladas por ações que, embora tenham ocorrido em seu tempo livre, foram consideradas inaceitáveis e em total desacordo com os princípios de suas organizações.

Ambos os exemplos, apesar de distintos, apontam para a mesma conclusão: o mundo corporativo de hoje exige que a liderança seja um farol de ética e responsabilidade a todo momento.

Para uma empresa familiar, a importância dessa postura é ainda mais crítica. A reputação da marca está intrinsecamente ligada ao nome da família, e qualquer deslize de um de seus membros mais proeminentes pode causar danos irreparáveis. A confiança, um pilar central em negócios de longa data, pode ser erodida da noite para o dia. Os colaboradores, parceiros e clientes esperam que os líderes não apenas cumpram o código de conduta da empresa no escritório, mas que o vivam em cada interação e decisão.

A agenda ESG, por sua vez, amplifica essa expectativa. O “S” de Social não se restringe apenas às políticas de diversidade e inclusão dentro da empresa, mas se estende ao impacto social de seus líderes. Como uma companhia pode defender a igualdade e a segurança em seu ambiente de trabalho se seu principal executivo demonstra o oposto em sua vida pessoal? A governança (o “G” do ESG) também é diretamente afetada, pois o comportamento do CEO se torna um reflexo da cultura e dos valores que a organização promove (ou não).

Em suma, a nova realidade exige que os líderes de empresas familiares incorporem o código de ética 24 horas por dia. Vestir a camisa da empresa se tornou uma metáfora literal para uma responsabilidade que não tem horário de pico nem folgas. É um compromisso inegociável com a integridade que, no final das contas, é o maior ativo que uma empresa, especialmente uma familiar pode ter em um mundo cada vez mais transparente e interconectado.

Bruce Grant Geoffrey Payne Glazier
Membro Externo e Presidente do Conselho Consultivo da Fex Agro Comercial
Diretor da Valoradar
Trabalhou nos Bancos Lloyds, Singer & Friedlander e Mizuho e nas empresas Abril, Suez Environnement, TCP Partners e BTG Globa
Membro de Conselho certificado pela Fundação Dom Cabral
Mestrado em Finanças pela London Business School
Bacharelado em Economia e Ciências Políticas pela Northwestern University