
Até atingir a fórmula ideal de disputa, o que ocorrerá a partir de 28 de janeiro próximo e terminando em dezembro, o Campeonato Brasileiro da Série A passou por períodos de muitas turbulências, incertezas quanto a sistemas de disputa, número de participantes e outras. Estas fases críticas de organização do campeonato foram vencidas somente agora – com enorme atraso – tendo como uma das causas o flagrante distanciamento técnico e econômico do futebol brasileiro em relação ao europeu.
Na longa transição, em meio às constantes crises de comando na CBF (e a mais recente foi em maio último) houve um período grave de pressões pois uma ala da mídia, aliada a um grupo de indecisos e divididos dirigentes de clubes, assumiu posição radical contra a fórmula de pontos corridos do Brasileirão, pleiteando insistentemente pela volta das disputas em mata-mata no campeonato.
Fórmula esta de grande interesse de emissoras de televisão em razão do objetivo emocional junto ao público, provocado pelo impacto da decisão rápida dos jogos em mata-mata e, de um modo bem especial, pela facilidade nas negociações comerciais de patrocínio das transmissões das partidas.
Mas, o mata-mata é uma fórmula que, por seu sistema eliminatório, não apura devidamente a qualidade técnica, individual e coletiva do conjunto dos clubes participantes. Este conjunto de qualidades, isto sim, só é possível de ser mostrado na longa competição (Brasileirão) pelo sistema de ida e volta (ou turno e returno), em pontos corridos e no qual e ao seu final, fica sendo o justo campeão a equipe que produziu, em 38 rodadas diretas, a melhor campanha.
Esta é a fórmula que, felizmente, saiu vencedora e vem vigorando há alguns tempos no Brasil. Também por ser um modelo existente há dezenas de anos na Europa e em quase todo o mundo onde haja, pelo menos, um futebol razoável.
Paralelamente, também com êxito (mais financeiro que técnico) foi solidificada no novo Calendário do Futebol Brasileiro, a Copa do Brasil que, por ser sistema de copa e não de campeonato, tem o apelo emocional da disputa rápida em mata-mata. Esta resolve logo quem vai continuar na competição, embora nem sempre premiando o melhor time. São as diferenças básicas entre Brasileirão e Copa do Brasil.
E as duas competições tiveram com o novo calendário, que entra em vigor no próximo ano, um planejamento bem estruturado. O Brasileirão vai de 26 de janeiro a dois de dezembro, com intervalo no meio do ano por causa da Copa do Mundo. A Copa do Brasil, em várias fases de mata-mata, começa em 18 de fevereiro e termina na segunda semana de dezembro, com decisão em jogo único. Os clubes da Série A do Brasileirão só entram na quinta fase.
O calendário também reserva fartura de vagas para os clubes menores até os finais de ano. Bem ao contrário das reclamações feitas por apressados dirigentes que, sem lerem atentamente os textos, diziam que seus clubes iriam morrer. Não será bem assim e isto vamos mostrar proximamente.
ESTRAGO – Após o jogo contra o Palmeiras, no último domingo, em SP, o sempre ponderado Leonardo Jardim, treinador do Cruzeiro, desabafou sua irritação não apenas contra a péssima atuação do juiz daquela partida (Rafael Rodrigo Klein) mas das arbitragens do futebol brasileiro em geral. Não saiu em defesas somente do seu time, seriamente prejudicado no jogo, mas aliou-se aos demais clubes e aos jogadores de todas as equipes, que clamam por arbitragens coerentes e profissionais.
Jardim se disse “frustrado” com o que ocorre no futebol brasileiro e indicou que não sabe “se vale a pena continuar no Brasil”. Levantou-se e abandonou a coletiva com a imprensa. Em seguida, foi a vez de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras. Durante longos minutos, solidarizou-se e apoiou o treinador do Cruzeiro. Ressaltou, igualmente, que as más arbitragens atingem gravemente a todos os clubes brasileiros e que é preciso, urgente, qualificar e profissionalizar a categoria. Jardim e Abel são dois renomados treinadores, empregados de dois grandes clubes que saíram publicamente em defesa de uma justa causa e no desempenho de um papel que seria, por obrigação, dos seus patrões: os presidentes dos dois times.
Detalhe: O esperado jogo Palmeiras x Cruzeiro teve duração de mais de 100 minutos. Contudo, de bola rolando, tempo útil de jogo, só 43 minutos. Culpa maior do árbitro Rafael Klein. A CBF não consegue avaliar o tamanho do estrago que as más arbitragens causam ao futebol brasileiro.
Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor

