
“Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo!!!…”
Esse lindo poema estava sendo falado num bar com toda a delicadeza e entusiasmo que a interpretação merecia, quando lá no fundo, um gaiato frequentador daquele espaço, começou a fazer interferências estranhas, atrapalhando a performance da moçada.
Reclamamos com o dono quando ele nos disse que o fulano era um freguês antigo e ele nada poderia fazer no momento.
Fomos para a rua, mais propriamente para o passeio, onde, de repente, apareceram centenas de pessoas para se deliciarem com as pérolas de Drummond, Bandeira, Fernando Pessoa, Ana Cristina César…
Naquela manhã fria, mas um pouco ensolarada e saudável, muitos ambulantes, crianças, donas de casa, foram entrando no clima, atraídos pela magia do acontecimento que se tornou uma grande festa.
O frequentador do bar, que tentou atrapalhar o brilhantismo do evento, de vez em quando saía à porta para dar umas tragadas, uma triste imagem!
O poema que fez a abertura do evento no bar, chama- se ‘Impressionista”, de autoria de Adélia Prado, uma poeta mineira maravilhosa e aqui faz se necessário um parêntese. O Governador(?) de Minas esteve num programa de rádio em Divinópolis, terra natal da poeta, quando o locutor lhe deu um livro dela de presente e ele agradeceu, demonstrando muita ignorância, quando perguntou:
– “Ela trabalha aqui na rádio com vocês?”
Os funcionários da rádio ficaram todos muito sem graça pelo deslize do “rapazinho”!
De outra feita, em outro programa de rádio, o pessoal, acertando o som, perguntou prá ele:
– “Governador(?), o senhor nos ouve bem?”
– “Ouvo sim, ouvo sim”, repetiu”!
Quer dizer, o slogan para a próxima campanha eleitoral já está pronto facilitando para o publicitário:
“Votem no nosso candidato, o candidato do (P)OVO!”
Oh, oh, Minas Gerais, que tristeza sô, diríamos nós!
Voltando para os butecos da vida – já que esse aí é muito ruim, na cidade de Catolé do Rocha, na Paraíba, terra do grande cantor e compositor Chico César, onde ele na tentativa de prestigiar a sua cidade, levou várias celebridades para fazer uma grande comemoração.
Catolé do Rocha, estava completamente lotada e o Chico foi até a um bar para combinar com o dono uma parte da festividade que seria lá. Quando ele estava indo ao banheiro, ouviu um diálogo vindo do salão que o deixou meio decepcionado pelo nível da conversa, que a ocasião festiva não permitia. Um fazendeiro, que havia entrado no bar, perguntou a um frequentador habitual o que era aquilo que estava acontecendo no Catolé e obteve como resposta:
– “É aquele negrinho feioso que está fazendo toda essa bagunça aqui na cidade”.
Chico, depois de ter ouvido essa impropriedade saiu dali e resolveu fazer todo o movimento na praça que ficou coalhada de gente até o sol raiar, um sucesso estrondoso!
Já o seu crítico racista ficou solitário naquele bar, parecendo ser irmão siamês daquele que tentou atrapalhar a performance poética no bar em Belo Horizonte.
Um outro acontecimento em bar aconteceu comigo e alguns amigos e, na época, até fiz um texto à respeito. Acontece que toda Quinta Feira reuníamos num buteco que ficava embaixo do prédio em que morava um dos participantes. Era só chegarmos ao ambiente que alguns frequentadores nos recebiam em uníssono:
– “Chegou o pessoal dos direitos humanos!”, numa alusão às nossas posições sócio políticas que, inclusive, nunca deixávamos extravasar prá ninguém, mas eles nos tratavam dessa forma, talvez porque as nossas conversas eram muito em particular e era só uma vez por semana.
Um belo dia chegamos lá e, estranhamente, não fomos saudados como de costume e assim continuou durante as próximas semanas. Ficamos incomodados com aquilo e descobrimos que o comportamento diferente do pessoal, era porque o filho do Português, dono do bar, havia sido preso como traficante de drogas.
Um dia, o “Purtuga”, humildemente, fez um desabafo conosco dizendo que a pior coisa que havia acontecido na sua vida era ter que visitar seu filho naquela espelunca horrorosa e fétida, onde ele estava trancafiado.
Um dos nossos amigos se dispôs a ajudá-lo, diante da sua experiência profissional na área, e o Português fico eternamente agradecido com o andamento e o resultado dos fatos.
Também, os bares não são só espinhos, aliás tem muita coisa maravilhosa nesses ambientes, é só assistir ao filme “Bar Esperança, o último que fecha”, do genial diretor e ator Hugo Carvana, onde ele mostra um bar no Rio de Janeiro, frequentado durante muitos anos por muita gente interessante, onde acontecia muito amor, poesia, cinema, música, e que sempre se transformava numa grande festa nos finais das noites!
Igual a esses temos notícias de vários outros, onde a doçura dos frequentadores supera a chatice de muitos outros como deveria acontecer normalmente em todos os nossos bares, butecos e butiquins, pois esse lugar sagrado não deve ser habitado por pessoas autoritárias, racistas, cheias de razão, pedantes… pois, além de tudo, esse espaço deve ser muito agradável e muito democrático!
José Emílio é Engenheiro Sanitarista e Jornalista



