Entre o espanto e o encanto: como a poesia de Júlia Matelli me convidou a dançar (por Danielle Balieiro Amorim)

Minha relação com a poesia era, digamos, adormecida. Aprendi o básico na escola e depois acomodei o gênero em um cantinho seguro e [...]

Minha relação com a poesia era, digamos, adormecida. Aprendi o básico na escola e depois acomodei o gênero em um cantinho seguro e empoeirado da minha mente. Não era algo que eu buscava ativamente nas prateleiras das livrarias. O reencontro mais terno veio com a maternidade, lendo histórias e versinhos para meu filho. Ah, a poesia que habita o nonsense encantado da infância! Mas foi só um vislumbre.

O verdadeiro despertar – aquele que pede atenção e resposta – aconteceu na FLIG, a Feira Literária de Guaratinguetá. No meio daquele turbilhão de livros e ideias, sentei para bater um papo com a poetisa Júlia Matelli, que lançava “A Dança da Louca”. E saí de lá com um convite inesperado: o de dançar.

Ao perguntar sobre suas inspirações, Júlia soltou uma constelação de nomes que me fez entender a dimensão do que estava diante de mim: Rainer Maria Rilke, Maya Angelou, Gertrude Stein, Wislawa Szymborska, Mario Quintana, Manoel de Barros… A lista seguia, do clássico ao experimental, transcendendo a própria literatura para citar o escultor Rodin e o compositor Thomas Newman.

Foi meu primeiro espanto. Percebi que não estava falando com alguém que “faz poemas”, mas com uma artista que respira criação em suas múltiplas formas. Sua poesia, deduzi, era alimentada por essa paisagem vasta, um lugar onde a palavra é som, imagem e volume.

E esse alimento resultou em “A Dança da Louca”. Júlia não chamou os capítulos de partes, mas de movimentos: Descida, Erupção e Revoada. Já aí, a metáfora da dança e da jornada se anunciava.

Quando lhe pedi uma síntese do livro, ela ofereceu um mapa emocional preciso: é uma viagem que vai “da melancolia ao delírio, da raiva à cicatrização que transforma”. No meio da intensidade dessa travessia, surgem os haicais, que ela descreveu como “pequenos respiros”. Imagine só: uma coreografia onde o passo de fúria é interrompido por um suspiro contemplativo de três linhas. Isso me encantou profundamente.

Mas para quem é essa dança? Júlia foi generosa na resposta: “É um livro para quem já sentiu o pensamento desorganizado e a mente exausta, e procura uma linguagem para essas fronteiras entre dor, compreensão e cura.”

Aqui reside a magia maior. Ela não escreveu um manual sobre o caos. Ela criou um espelho poético onde esse caos é reconhecido, nomeado e, pasmem, dançado. O retorno que tem recebido dos leitores prova isso: gente que se viu nos versos e, ao se ver, encontrou não apenas identificação, mas também beleza e sentido no meio da própria loucura.

“Ler ‘A dança da louca’”, ela finalizou, “é aceitar percorrer essa travessia de palavras, ritmo e busca e, ainda, se tirar para dançar.”

E foi esse o convite que, para minha surpresa, aceitei. A poesia que eu mantinha adormecida no cantinho acordou disposta a sambar, a chorar, a erupcionar. Para você, leitor, que talvez tenha uma relação parecida com a que eu tinha com a poesia, deixo o mesmo convite. A jornada de “A Dança da Louca” é intensa, sim, mas é sobretudo libertadora. E se quiser embarcar nessa travessia, o livro está disponível no site da editora Sou Rio.

Danielle Balieiro Amorim é Jornalista, Escritora e Ghost-Writer. Na Accenture, desenvolveu expertise em Comunicação, Gestão de Pessoas, PMO, Treinamento e Desenvolvimento, entre outras áreas. Escreve duas colunas semanais para o jornal Diário de Taubaté e para revistas brasileiras nos Estados Unidos. Tradutora dos idiomas Inglês, Português e Espanhol. Autora do livro infantil “As Aventuras de Ximin em: Floresta Mágica”. Podcast para crianças no Youtube: “Contos para Sorrir”.

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