Desafios práticos da política tarifária Americana

Após uma primeira análise, e muita pressão dos importadores americanos, o governo Trump concluiu que produziria inflação interna,[...]

Com sua justa razão, este é um tema recorrente no meio empresarial, político e na mídia. No Brasil e no mundo todo.

O caso brasileiro, lamentavelmente, é o mais complexo do comércio global, pois desafia a racionalidade econômica. Afinal os EUA têm, há anos, sólido superávit comercial com o Brasil.

E boa parte da nossa pauta de exportação para o país do Tio Sam não é produzida por lá.

Enfim, logo após o anúncio das tarifas de 50%, o governo americano isentou 694 produtos brasileiros, ou 44,6% das nossas exportações. Centenas de outros produtos, porém, continuam com a tarifa de 50%.

Ora, por que isentar este número tão preciso?

Elementar: Após uma primeira análise, e muita pressão dos importadores americanos, o governo Trump concluiu que produziria inflação interna, sem alternativas viáveis vindas de produtores locais ou de países mais alinhados.

Mais do que machucar o Brasil, Trump estaria machucando os seus eleitores.

E os demais produtos, os não isentos do tarifaço?

Bem, até o momento eles acreditam que encontrarão alternativas viáveis. Ledo engano, mas sigamos.

Sabemos que a grande maioria dos importadores americanos já cancelou seus pedidos. E por aqui o pânico está instaurado, especialmente em setores de produtos altamente perecíveis, como o de frutas.

Como venho dizendo, o melhor embaixador que nossos exportadores terão é o consumidor americano, que não aceitará produtos piores (que os nossos) e preços mais elevados.

O risco de desabastecimento também é real. Comércio internacional é muito diferente da decisão de compra de uma televisão. Se não gostar da oferta e preço da Casas Bahia, o consumidor atravessa a rua e vai no Magazine Luiza. Ou muda de site de e-commerce.

Já no comércio internacional o grau de complexidade é imenso. O primeiro desafio é encontrar o produto substituto àquele que foi tornado inviável pela taxação.

Motivo? Simples: Não há estoques em volume suficiente para substituir um grande fornecedor internacional. E nem capacidade ociosa para rapidamente suprir a repentina demanda.

E os problemas se acumulam na logística. Durante um bom tempo, faltarão contêineres, terminais portuários, caminhões e navios, para um fornecimento abrupto.

Quer mais? Aspectos regulatórios nos EUA, com por exemplo, os fitossanitários. E o que fazer as especificidades de cada produto, cujo gosto já está consolidade pelo consumidor americano?

Por exemplo, o nosso café unwashed arabica faz parte de blends consagrados nos EUA. É imenso o risco de trocar o grão brasileiro por um robusta africano.

O sofrimento do americano médio é o nosso maior aliado, para que se inicie uma negociação de alto nível.

Da perspectiva dos nossos exportadores, estes estão entupidos de estoques para embarque. E, possivelmente, terão suas vendas para os EUA frustradas. Uma solução não será trivial.

Pelos mesmos motivos.

A indústria de produtos de madeira, de Santa Catarina, por exemplo, não conseguirá desovar sua produção em países para onde não vendia até agora.

Fechar grandes contratos exige longas negociações. Discussão do produto, da sua qualidade. E há também o gosto do consumidor do outro país, que não estava acostumado aos nossos produtos.

Fora o preço. Com uma enxurrada de produtos brasileiros sendo ofertados, os importadores de novos países irão nos apertar nas negociações.

Fora que, conforme citamos acima, a sua logística também não estará preparada para recepcionar uma compra repentina do Brasil.

Em suma, não há saída fácil. Cada caso é um caso. Uns sofrerão mais e outros menos. Uma concertação nacional é fundamental, unindo diplomacia, apoio creditício e tributário, e ação comercial emergencial.

Só assim poderemos reduzir dores que serão inevitáveis.


Fernando Blanco é Mestre em Sistemas Internacionais Bancários e Estudos Financeiros pela Universidade Herriot-Watt, Professor Visitante da FIA Business School. Mercado Financeiro. Autor