Campeonato estadual já era (por Erasmo Angelo)

A implementação do novo Calendário do Futebol Brasileiro pela CBF (2026 a 2029) merece ser detidamente analisada tendo em vista as consequências que [...]

A implementação do novo Calendário do Futebol Brasileiro pela CBF (2026 a 2029) merece ser detidamente analisada tendo em vista as consequências que as medidas adotadas vão provocar no contexto de todo o futebol brasileiro a partir do próximo ano.

Desagradável é saber que há dirigentes de clubes profissionais de menor estrutura, geralmente os que se situam fora das capitais, que não se deram ao trabalho de ler e entender o que diz todo o calendário e saíram por aí em protestos dizendo que a proposta “vai matar os chamados clubes pequenos”. O que é uma inverdade pois, como se verá adiante neste e futuro comentários, tais clubes serão muito beneficiados, mas desde que executem um trabalho com boa dose de eficiência e profissionalismo.

Até mesmo grandes clubes – e faltam pouco mais de dois meses para o início da execução das medidas – ainda não se debruçaram no exame profundo do Calendário, o que já deveria já estar em andamento visando ao planejamento da próxima temporada, uma vez que as competições começam em janeiro.

Sobre isto, há uma questão bem relevante para os clubes e que envolve a inútil, cansativa e desnecessária escalação de suas caras equipes titulares em campeonato estadual. Vamos esclarecer.

Os estaduais tiveram uma redução de 16 para apenas 11 datas e começam em 11 de janeiro. O Campeonato Brasileiro da Série A terá início em 28 de janeiro (termina em 02/12) e em 24 de janeiro haverá ainda a Supercopa do Brasil, jogo entre os campeões do Brasileirão e o da Copa do Brasil deste ano.

Conforme o novo calendário, todos os 20 clubes da Série A já estarão automaticamente classificados para a milionária Copa do Brasil e assim não ficarão mais na dependência de posição nos estaduais para garantia da vaga. Não fosse isto, o Botafogo, por exemplo, estaria fora da Copa do Brasil no próximo ano.

Os grandes clubes, beneficiados pelo novo calendário, vão ganhar maior espaço de tempo e datas livres para o preparo ou recuperação de seus atletas e certamente não precisarão recorrer mais a times mistos para a disputa simultânea com estaduais, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana.

É esta vantagem que possibilitará aos grandes clubes da Série A a excelente oportunidade de escalarem seus times sub-20 nos estaduais. Agora, eles estarão livres das amarras que os prendiam na quase obrigação de escalarem seus valiosos atletas titulares durante a desinteressante competição estadual que, finalmente, já não mais interfere na sua classificação para a Copa do Brasil.

Por outro lado, com suas equipes sub-20 em campo em um torneio de primeira divisão, como é um campeonato estadual, os clubes envolvidos na Série A estarão preparando, revelando e dando experiência aos seus jovens craques, que estarão preparados para uso imediato da equipe principal.

É preciso levar em conta também, que já há algum tempo um título de campeão estadual praticamente não tem nenhum significado expressivo para um grande clube tal o seu favoritismo, corriqueiro e absoluto, diante da fragilidade dos demais rivais. Virou futebol sem emoções.

Os estaduais tiveram seu valor e popularidade até o final dos anos 60, época em que começou a explodir o anseio nacional por competições de grande vulto. Os estaduais foram perdendo sentido na medida em que novas exigências e grandes competições nacionais e internacionais foram incorporadas ao gosto e emoções das multidões, seja nos estádios ou pela televisão. E nestes espetáculos, a presença constante de uma porção de craques fabulosos. É por isso que campeonato estadual caducou. Já era.

O novo calendário do futebol brasileiro mostra, com atraso, a nova realidade. Mas, mostra também que ele representa o futuro para grandes e pequenos clubes. Comentaremos adiante.




Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor