
A República Independente de Santa Tereza, conserva a tradição da nossa Beagá em seu cardápio, com vários bares no território, dentre eles o Bar do Orlando, o mais antigo do bairro e, quiçá, da cidade!
Esse Bar que ocupa um espaço muito agradável na parte mais baixa do bairro, quase beirando a linha e próximo ao Ribeirão Arrudas, está completando cento e seis anos, quer dizer, vinte e dois a menos que a fundação da Cidade de Belo Horizonte, uma glória!
A origem do Bar do Orlando veio do Bar dos Pescadores onde as pessoas iam pescar no rio Arrudas, na época despoluído, ou a turma que pegava o trem, logo em frente, na parada do Cardoso, para pescar no Rio das Velhas em Sabará ou em Rio Acima. A turma parava no Bar para comprar os equipamentos de pesca e na volta, com os peixes no samburá, pediam ao seu José Inácio, o primeiro proprietário, para fritar alguns e tomar umas, antes de voltar para casa.
Depois, alguns descendentes do Sr. José Inácio assumiram o negócio, até venderem para o Sr. Pedro Siqueira que manteve o nome de Bar dos Pescadores, até aparecer o garoto de Santa Luzia, seu sobrinho, de nome Orlando, que assumiu a direção do negócio, mudando o nome do estabelecimento para Bar do Orlando, o dos Pescadores ficou na memória .
O Bar do Orlando sempre foi uma festa, além da freguesia natural, muita música de qualidade, com ensaios de blocos, inclusive o dos pescadores, do Bloco Volta Belchior e outros mais.
Sou frequentador antigo da instituição, embora só mais recentemente tornei-me um Sócio de Carteirinha, ou seja, um habitué (ui!).
Quando comecei a frequentar o Bar mais amiúde, tomei um grande susto!
Acontece que eles têm uma brincadeira muito saudável que deixa a gente grilado. A minha primeira vez aconteceu quando cheguei ao Bar que estava lotado e uma voz que parecia ter vindo do além gritou meu nome. Olhei para um lado e para o outro e não vi ninguém conhecido, quando um gaiato de plantão vendo o meu susto falou:
– “Olha, tome cuidado pois aqui do lado tem um centro espírita”, aí é que a coisa piorou!
Quando descobri o truque ele passou a ser uma das minhas brincadeiras prediletas no Bar. No meu caso foi a Madá, Esposa do Orlando, que se informou sobre o meu nome e feito uma ventríloqua profissional soltou a boa nova, tô bobo até hoje!
Essa brincadeira continua viva e já espantou algumas pessoas do Bar com o medo do Surreal Futebol Clube. Encontrei com algumas vítimas da brincadeira e os indaguei o porquê de não aparecerem mais no Orlando e a quase unanimidade das respostas era:
– “Cê tá é doido, ali só tem feiticeiro”, assim seja, digo eu!
Somos testemunhas de vários acontecimentos interessantes, ou não, do Bar, mas são muitos a saber: o Bar fica localizado na parte mais baixa de Santa, estávamos todos selerepes, tomando todas, quando caiu um toró, tivemos que sentar todos no balcão e feito a letra do Marcinho Borges para um dos Hinos do Clube da Esquina, começamos a cantar quando a água já chegava à canela:
– “O rio de asfalto e gente desce a ladeira, entope o meio fio…esquinas mais de um milhão…”
Foi a conta a tempestade baixou, conseguimos descer do balcão e continuar a fuzarca etílica, uma maravilha!
De outra feita estávamos no Bar quando em frente onde tem uma grande grade de proteção à rede de esgotos e alguém viu uma mão pedindo socorro, uma cena que parecia inusitada. Era a pura verdade, um paciente de um hospital que se localizava na avenida do Contorno tinha fugido de pijama do hospital pela rede de esgotos, quase um quilômetro dali quando avisamos para os bombeiros que o retiraram levando de volta para o hospital.
Mas o bar que tem muitas comemorações durante todo o ano, viu o ápice delas quando o Galo se tornou campeão da Libertadores. Acontece que estava sendo feita a filmagem do “Hoje é Dia do Galo”. e o Bar do Orlando era um “ator” privilegiado do filme. Durante o jogo, as câmaras estavam atentas para não perder um lance e foi o que aconteceu. O Orlando não sabia se olhava pro jogo, se atendia os fregueses, se pegava alguma coisa embaixo no balcão, um vai e vem louco que está documentado no filme. No final da partida foi uma loucura com festa até o sol raiar.
No outro dia aparecemos no Bar com o jornal “O Estado de Minas”, onde na capa principal, ocupando todo o espaço, estavam o Nhó, Zé Agustin (Luiz) e o Orlando, os três irmãos, comemorando a vitória dos seus times, uma grande festa. Atualmente o Bar está sendo comandado pela terceira geração da família, sendo Orlandinho e Eliza os novos comandantes (Orlando tá na lateral!), que continuam a trazer para o Bairro e para o Bar o mesmo astral que sempre foi conquistado e esperamos que assim seja por muitos anos e que a bela tradição continue, salve!
José Emílio é Engenheiro Sanitarista e Jornalista



