A importância de ampliar a banca empresarial (por Vera Raimondi)

Ampliar a banca é criar alternativas.. [...]

Em qualquer debate sobre economia, a taxa de juros aparece como protagonista. No Brasil, não é diferente: os juros moldam decisões de investimento, consumo e financiamento. Mesmo em ciclos de queda da Selic, os spreads bancários continuam elevados. Isso significa que, além da taxa básica, pesa a percepção de risco do setor, da empresa e até do país. Crédito nunca é apenas sobre juro. Crédito também é sobre confiança.

Para o banco, o que dá segurança na hora de liberar crédito não é só a garantia formal e, sim a capacidade da empresa de provar que tem lastro: governança financeira, fluxo de caixa sólido, relatórios consistentes e uma operação que mostra disciplina. Sem isso, mesmo em cenários de juros mais baixos, o custo do crédito tende a ser alto.

Muitas empresas ainda acreditam que centralizar operações em um único banco gera benefícios. A lógica seria simples: mais relacionamento, mais vantagens. Na prática, a fidelidade raramente se traduz em custo de capital mais baixo. O que ocorre é o contrário: a empresa perde poder de barganha e fica refém de uma única instituição, pagando taxas acima do que poderia negociar.

Ampliar a banca é criar alternativas. Diversificar significa abrir espaço para diferentes propostas, estimular a concorrência entre instituições e, principalmente, ter opções quando uma linha se fecha ou um banco muda sua política de risco. Essa estratégia vale para todos os portes: da PME que precisa financiar capital de giro à grande corporação que capta recursos no mercado internacional.

Em momentos de crise ou de escassez de liquidez, empresas com banca diversificada têm mais fôlego. Elas conseguem negociar prazos, ajustar custos, acessar instrumentos diferentes e manter investimentos em andamento. Já quem concentra relacionamento descobre, tarde demais, que depender de um único banco é abrir mão de flexibilidade.

Mais do que um detalhe operacional, ampliar a banca impacta diretamente o custo de capital. E custo de capital define a competitividade de uma empresa. Uma taxa mal negociada pode inviabilizar um projeto; já uma estrutura diversificada pode garantir crescimento sustentável mesmo em cenários de juros altos.

E aqui está o ponto central: ampliar a banca não é abrir contas em vários bancos sem critério. É agir com estratégia, olhando risco e custo. Como no xadrez, cada movimento precisa ter propósito. Quem enxerga dessa forma transforma o crédito em aliado para crescer, e não em ameaça ao caixa. No nosso cenário de altos e baixos econômicos, essa visão separa quem apenas sobrevive de quem consegue crescer com consistência.


Vera Ráimondi é administradora e contadora, com especialização em Finanças Corporativas pela FGV e carreira desenvolvida em consultoria, controladoria e reestruturação empresarial.