Urnas da vingança (por Nestor de Oliveira)

Vejo a submissão do Legislativo de Minas Gerais, ao atual governador, no caso das privatizações, como um lamentável erro de avaliação e ação política sem precedentes. [...]

Nelson Rodrigues, jornalista, escritor e teatrólogo brasileiro tem uma frase lapidar a respeito da democracia: “A democracia é o único sistema político que dá voz aos idiotas. O problema é que eles vão dominar o mundo, não pela qualidade, mas pela quantidade”. Sinais de que já começaram a nos dominar os temos onde a democracia se faz presente, ou falam em seu nome. Não vou citar os EUA, tidos como seu exemplo, nem Rússia, onde é citada, nem Venezuela, Argentina ou França. Vou ficar com um exemplo caseiro, conhecido, onde a manipulação do poder está em pleno vigor, atuante, a desvirtuar o desejo do povo, em nome de quem, afinal, o poder deveria ser exercido.

Vejo a submissão do Legislativo de Minas Gerais, ao atual governador, no caso das privatizações, como um lamentável erro de avaliação e ação política sem precedentes. Mudaram a Constituição do Estado para atender desejo pessoal do atual mandatário, dispensando a consulta popular, até então prevista. Ou seja, amordaçaram o povo. São os deputados estaduais os representantes do povo mineiro? São, em tese. Podem fazer leis e mudar a Constituição? Sim, desde que sejam para atender à população e não a prejudicar. Mudaram a Constituição para atender ao povo? Não, nem equivale a um “referendum” popular. Neste país, de leis elásticas, vence aqueles que as interpretam a seu favor e pelo poder a exerce. Ignoram seus compromissos e juramentos. Por que só no final de seu mandato o atual governador busca a privatização da Copasa? Da Cemig, da Gasmig, da Codemge? Se era um programa de governo, por que não teve a coragem de colocar este tema na campanha de sua eleição, transparentemente? Tem cheiro de negociata a privatização autorizada.

Fui, durante anos, Diretor da empresa de telecomunicações do estado, que contava com as três melhores empresas brasileiras de serviços públicos: Cemig, Copasa e Telemig, todas públicas. Vi a privatização das teles, acompanhei de perto o “limite das responsabilidades” como disse o então Ministro das Comunicações. Fui e sou a favor das privatizações, especialmente sou a favor da forma honesta de o fazer. Com documentos sob censura, usando artifícios e argumentos falsos não é ser transparente nem correto. Neste momento, no atual contexto político econômico do país, e do estado especialmente, qualquer privatização é suspeita. No fim de mandato, então, é pra lá de ofensivo ao patrimônio do estado e de seu povo. Curiosamente, no caso das teles, onde manobras nada republicanas aconteceram, a única empresa brasileira que arrematou uma parte do sistema, agora teve sua falência decretada, a antiga Telemar, hoje OI. Perdemos todos, especialmente o patrimônio público, a honra e a honestidade. Se tivéssemos leis rigorosas metade, ou mais, dos encarregados da privatização e vencedores brasileiros estariam presos, com severas penas por corrupção e peculato. Fui totalmente a favor da privatização, onde a proporção de telefones por habitante, antes da privatização era de 8 telefones por 100 habitantes. Hoje é de 120 telefones pelos mesmos 100 habitantes. Não da forma que foi feita. Ao governo federal, durante anos, não interessava investir e não permitia a expansão destes serviços.

Aos que dizem ser representantes do povo é bom lembra-los que ano que vem tem eleições. As urnas têm o cruel e costumeiro hábito da vingança.

 
Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor

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