
Durante minha jornada sabática pelo Butão, país de cultura milenar encravado nos vales do Himalaia, cada olhar se transformava em uma oportunidade única e especial de reflexão sobre a vida, sob múltiplas perspectivas. Ali, em meio a essa cultura profundamente preservada em suas tradições, revela-se a verdadeira riqueza humana: a capacidade de mergulhar nas próprias profundezas e redescobrir nossa essência, aquilo que realmente importa.
Fez muito sentido observar que, em seus valores econômico-culturais, o Butão mede seu desenvolvimento pela Felicidade Interna Bruta (FIB) e não pelo PIB, como nós no Ocidente. Esse indicador contempla dimensões como o bem-estar psicológico da população em todas as faixas etárias, educação, equilíbrio social, preservação ambiental e governança, uma realidade facilmente perceptível na rotina das cidades, nos hábitos da vida no campo e nos rituais dos inúmeros monastérios presentes pelo país. Governado por uma monarquia, o Butão é hoje conduzido por um jovem rei, formado em Harvard, que vem se capacitando para abrir o país ao mundo de forma criteriosa e organizada. Um encontro empático com o Ministro da Economia confirmou a força serena e prática dessa visão.
O Butão surpreende também em detalhes concretos: o aeroporto, localiza-se entre vales e montanhas. É considerado um dos mais arriscados do mundo; o tabaco é proibido e, qualquer tentativa de burlar a regra pelo estrangeiro, resulta em deportação imediata; o povo, gentil e acolhedor, sorri com naturalidade, expressando leveza e harmonia em uma vida simples, profundamente conectada à natureza, à comunidade e à espiritualidade.
Entre as montanhas geladas, a fauna local reflete o cuidado do país também na preservação ambiental: o iaque, resistente e manejado de forma sustentável, fornece leite, carne e lã essenciais à vida das comunidades; o bisão selvagem, símbolo de força e resistência, habita áreas preservadas, mantendo o equilíbrio ecológico; e o faisão-do-Himalaia, ave nacional e símbolo de beleza, tem seu habitat rigorosamente protegido, preservando a biodiversidade. Cada espécie testemunha o equilíbrio que o Butão mantém entre cultura, natureza e sociedade, lembrando que toda vida está interconectada.
No universo corporativo, o país também já inspirou líderes no Ocidente. Gustavo Werneck, enquanto CEO da Gerdau, em suas interações com o Linkedin e em diversos outros meios de comunicação, destacou ter visitado o Butão para estudar o conceito de Felicidade e refletir sobre como o bem-estar pode ser integrado às empresas, ressaltando que cuidar das pessoas é parte essencial de qualquer estratégia de sucesso do negócio.
O Butão me trouxe várias reflexões de vida pessoal e ideias coerentes a serem pensadas, valores revisitados, que podem inspirar novas formas de considerar e agir nos mundos humano, social e estratégico.
Chego de volta à minha realidade confirmando que o verdadeiro valor da vida é a capacidade de cultivar equilíbrio, propósito e conexões significativas. A prosperidade se revela plena quando se vive em harmonia consigo mesmo, com os outros e com o mundo, o que realmente importa e promove uma vida plena.
Vera Helena Castanho é Psicoterapeuta em Base Analítica.



