Um olhar sobre o passado (por Nestor de Oliveira)

É fácil ser juiz de causa julgada, ou olhar novos caminhos para o passado, especialmente se sua jornada foi boa o [...]

É fácil ser juiz de causa julgada, ou olhar novos caminhos para o passado, especialmente se sua jornada foi boa o suficiente para te satisfazer. O desafio é curioso, abre sua mente para uma imensidão de possibilidades, quando você pode, com as informações de hoje, projetá-las no passado e dar nova direção à vida. Então, vamos lá.

Naturalmente vou buscar, nesta projeção, todos os valores que acumulei e gostaria de direcioná-los melhor às possíveis alternativas. A principal seria ter dado, a mim mesmo, mais tempo para os namoros e amores, lazer, divertimento, passeios, leitura, música, teatro e um sem fim de atividades culturais e prazerosas.

Outra seria conviver mais com família e amigos, não ter gasto tanto tempo com responsabilidades estéreis, aquelas assumidas por princípios e mandatos tolos, que em nada acrescentaram aos verdadeiros valores espirituais ou materiais. Descumpriria compromissos sociais vazios e fúteis que em nada melhoraram meus momentos, deixando uma frustação e sentimento de perda de tempo.

Lutaria menos pelas formas de poder, econômico, social ou político, porque ao fim das contas são tão passageiros, vazios e compensam muito pouco o esforço para alcançá-los. Basta-nos a gratificante sensação do dever cumprido e ter a segurança de um futuro com saúde e conforto. Lembro-me de ter sido executivo de uma grande empresa, exercido meu dever com muito rigor e grave responsabilidade, no entanto, ter como maior lição as duas úlceras duodenais adquiridas.

Não vou particularizar realizações, dificuldades ou sucessos, acontecidos no seu devido tempo, há mais de 55 anos em muitos lugares onde pude exercer meus conhecimentos profissionais com honra e dignidade. Sou jornalista, fui executivo de empresas públicas e privadas, tive minha própria empresa de comunicação, trabalhei com renomados políticos. Com eles aprendi que só a política pode mudar nosso país, basta ser feita por homens honrados e comprometidos com o bem comum. 

Viajei muito pelo Brasil e exterior, conheci soluções para problemas primários que ainda enfrentamos e não conseguimos resolver.

Tenho saudades de alguns lugares onde trabalhei, de outros nem tanto, mas uma coisa comum tive a sabedoria de fazer:  amigos.

Amigos. Esta é, afinal, a principal riqueza que construí ao longo dos anos, no trabalho, na vida social, nas relações que pude ter. Se eu pudesse recomendar, aos jovens profissionais, a busca de uma grande riqueza, não tenho dúvidas – façam e cultivem amigos. Estes serão os pilares de toda uma vida, onde e quando, em qualquer momento, estarão ao seu lado como companheiros, que na verdade o são. Aproximem-se dos que se identificam com seus valores e princípios, seja deles o que você gostaria que eles fossem pra você.

Para terminar recorro ao grande poeta argentino Jorge Luiz Borges, que em 1989, escreveu “Instantes” de onde extraio alguns versos:

“Se eu pudesse viver novamente minha vida
Na próxima trataria de cometer mais erros
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais,
Seria mais tolo do que tenho sido…

Iria a mais lugares onde fui,
Teria mais problemas reais e
Menos problemas imaginários

Sou uma dessas pessoas que viveu
Sensata e produtivamente…

Porque se não sabem, disso é feita a vida,
Só de momentos,
Não perca o agora…”


Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor