A alma do vinho (por Nestor de Oliveira)

Charles Baudelaire, poeta francês, é o dono deste título para sua poesia que diz: [...]

Charles Baudelaire, poeta francês, é o dono deste título para sua poesia que diz:

 A alma do vinho, certa tarde, nas garrafas
Cantava: “Homem, elevo a ti, que me és tão caro,
No cárcere de vidro e lacre em que me abafas,
Um cântico de luz e de fraterno amparo!”

Ao longo do poema faz um apelo ao homem que o liberte, o beba, prometendo que o compensara não sendo perverso nem ingrato, ao contrário dando-lhe alegria e sabor à vida, afirmando que é no seu “tépido peito a tumba onde se aquece.”

O vinho é louvado em prosa, versos e músicas, presente na civilização humana desde seus primórdios, cultivado e fermentado segundo os diversos sabores, castas de uvas e regiões. Está na Bíblia, em diversos versículos do antigo e novo Testamentos: Deus criou o vinho para alegrar o coração do homem, Moisés o recomendou para a adoração familiar diante de Deus, Jesus o bebeu e o supriu em um casamento, Paulo endossou o uso na comunhão. Da minha parte cumpro, como bom Cristão, tais preceitos.

Goethe, poeta alemão, artista, novelista, diretor de teatro e crítico foi um especialista em vinhos. Pudera, seu avô era produtor e apreciador da bebida, seu pai comerciante de vinhos e bom de copo, ou taça. Autor de “Fausto” o homem que vendeu a alma ao diabo, tem diversas frases a respeito do vinho: “Uma mulher e um copo de vinho aliviam todas as dificuldades, e quem não beija e quem não bebe, está morto há muito tempo”. “Os ricos querem bons vinhos, os pobres muito vinho”, “A vida é muito curta para beber vinhos ruins” e “A juventude é a embriaguez sem vinho”. Era, nosso poeta um consumidor regular de vinhos, mas raramente visto bêbado, sendo uma das poucas vezes ao lado do outro Johann Sebastian, o Bach, amigos e correspondentes que eram. Entre os documentos deixados, depois de sua morte, foram encontradas muitas notas de compra de vinhos franceses, espanhóis, húngaros, italianos e naturalmente, alemães.

O consumo de vinho no Brasil é recente, até porque também é novo nosso país, mas no Baile da Ilha Fiscal, que marcou o fim do Império, foram consumidas mais de duas mil caixas de vinhos franceses. Os ricos gostam de bons vinhos, especialmente se não são de suas adegas e quem os forneça sejam os anfitriões. Tal como era, assim é, vide as recepções dos nossos poderes públicos, Itamaraty, Senado, Câmara e Tribunais.     

São muitas as profissões surgidas com a recente chegada do consumo do vinho no Brasil, e uma delas é especialmente valorizada – o sommelier, profissional que sabe sugerir, escolher e harmonizar vinhos com o que se vai degustar ou comer. Nossas vinícolas começam a produzir vinhos de boa qualidade, em Minas Gerais inclusive, com excelentes produtores no sul do estado e região de Diamantina.

Há, no entanto, um princípio fundamental a ser obedecido – o bom vinho é aquele que satisfaz suas expectativas.  


Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor