
Que a leitura distrai, informa, instrui, leva-nos ao passado e ao futuro, passando de quebra pelo presente, todos sabemos. Há tempos circula entre nós a expressão “viagem da leitura” para sintetizar essa ideia. A leitura é, sem dúvida, uma viagem.
Poucos, no entanto, conhecem os outros benefícios da leitura, sobretudo para o cérebro. Estudos feitos por neurocientistas, inclusive brasileiros, mostram que um romance ou um livro de contos acelera a velocidade do raciocínio e cria circuitos neuroniais duradouros.
Assim, a leitura ajuda-nos a viver mais com menor propensão para problemas como a doença de Alzheimer. Veja em sua própria família: seus parentes que leram e leem bastante provavelmente têm boa qualidade de vida na velhice. Para comprovar a tese, a Universidade de Yale, após acompanhar quatro mil pessoas durante uma década, descobriu que quem lê vive 20% a mais que os não leitores. Isso mesmo. 20%! Se você chegaria aos 80, com a ajuda de bons romances poderia sonhar com os 96. De fato, quem lê vive mais e melhor.
Outros estudos demonstraram que quem lê também raciocina melhor, pois possui maior intimidade com as emoções – os livros são doses maciças de emoção, muitas das quais não experimentaremos durante a vida, a não ser nas páginas de um romance. A emoção precede a razão, segundo os grandes estudiosos da mente. Melhor emoção, melhor razão.
Também se descobriu que os leitores assíduos são mais tolerantes, menos egoístas, mais chegados à chamada Teoria da Mente: conseguem colocar-se no lugar do outro, portanto percebem com maior facilidade as emoções alheias. Daí terem afirmado que os devoradores de livros são capazes de ler o pensamento alheio, o que é um exagero.
Entre os jovens, constatou-se que os bons leitores arrumam um número maior de companheiros ou companheiras. A evolução parece privilegiá-los.
Por outro lado, em nosso país a questão da leitura continua catastrófica. Para ficar apenas num escândalo: um terço dos formandos de alguns cursos superiores é analfabeto funcional, ou seja, não sabe ler nem escrever direito. Numa avaliação internacional de compreensão de textos, entre quarenta países, o Brasil ficou na vice lanterna. Só ganhamos dos indonésios.
Nossos governantes, no entanto, não se importam com a leitura. Na escola, lemos cada vez menos e pior. A literatura, que ensina a nossa língua, virou “outras linguagens” e sumiu do currículo. O governo postergou a renovação do acervo das bibliotecas. O incentivo aos alunos caiu. O ânimo dos professores despencou. Em várias empresas, aboliram-se as instruções por escrito: os funcionários leem e nada compreendem.
A lição é simples: não se faz um país sem bons leitores. Quem duvidar pergunte aos sul-coreanos ou aos chineses. Há pouco tempo, eles liam tão mal quanto a gente.
Luis Giffoni
Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras
Prêmio Jabuti