
A Almir Sales, da “Casablanca”
“Casablanca” (1942) não é filme para ser visto uma única vez. É um clássico do cinema cuja mensagem é sempre atual: faça o que deve ser feito, custe o que custar. Já perdi a conta de quantas vezes o vi e revi, mergulhando em clima e enredo leve, divertido, romântico, sentimental, de aventura, um filme sobre o qual sua atriz principal, Ingrid Bergman, uma vez disse “Há algo de místico sobre ele”. Para mim e maioria de seu fã clube, mística é ela, uma Deusa de beleza e fascinante interprete da personagem Ilsa, esposa norueguesa do fugitivo Victor Lazlo. Claro, Humphrey Bogard, cumpre o dever de casa, faz bem sua parte como Rick, dono do “Ricks Bar”, mas deixa grande parte da plateia decepcionada, muitas mulheres choram, ao vê-lo perder Ilsa, um monumento de beleza e sensualidade e deixa-la partir com o frio marido, num voo da noite fugindo dos nazistas.
Ingrid, neste filme, é a personificação humana da beleza, numa mistura de divindades a nos deixar boquiabertos com seus encantos, representando todas as deusas que os humanos, ao longo dos tempos, procuraram estabelecer como padrão. Gregos, troianos, romanos, nórdicos, egípcios com suas deusas Afrodite, Vênus, Freya, Luna, Minerva, Ceres e Iris estão, em síntese, incorporados na bela sueca. Leve, sensual, cheia de charme, iluminada, glamurosa e delicada faz de qualquer espectador prisioneiro pela paixão. A história do filme é muito simples, seu enredo é leve, produção elementar, sem nenhuma dificuldade, passando a maior parte dentro de um bar, o “Ricks Bar”, cujo dono foi um caso de amor de Ilsa. Mas a música…
A música, um jazz, “As time goes by” é uma canção que arrebata pela harmonia, sinfonia, beleza, sentimentalismo, letra e casamento perfeito com o roteiro do filme. Criada por Hermann Hupfeld, Romain Leleu e Tony Paeleman, tem a poesia:
“You remember this /A kiss is still a kiss/A sigh is just sigh/The fundamental things apply”, ou, “Com o passar do tempo”:
“Você deve lembrar se disto/ um beijo é sempre um beijo, um suspiro é exatamente um suspiro, as coisas fundamentais se aplicam.”
A cena no Ricks Bar, quando Ilsa reconhece, de encontros anteriores, Sam, o pianista e pede “Play, Sam”, Sam se faz de desentendido e ela solfeja as primeiras notas de “As time goes by”, é inesquecível. Sam insiste, toca a música ao piano, mas não canta. Ela não desiste: “Sing, Sam”. Ele, um ótimo pianista e cantor negro, solta a voz e não há quem não se emocione. Chega Rick que tinha proibido Sam tocar tal música no bar, o olhar iluminado dela é alguma coisa de deslumbrante.
A carreira da atriz Ingrid Bergman no cinema, acontece na Europa e nos EEUU, sendo uma das poucas atrizes, até hoje, a receber três Oscars pelas suas interpretações. Certa vez comentou a respeito de “Casablanca”: “Fiz tantos filmes que eram mais importantes, mas o único que as pessoas querem comentar é “Casablanca”. Tempos depois afirmou que “Eu sinto sobre “Casablanca” que ele tem vida própria. Há algo de místico sobre ele.”
A tensão da fuga de Lazlo, as armações feitas com a ajuda da polícia, faz um final com suspense. Termina o filme com o avião entre as nuvens, Rick com o policial chefe de Casablanca no aeroporto, que pergunta “E agora?”, o policial responde “Vou mandar prender os suspeitos de sempre”.
Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor