
Já ficou claro que o governo Trump não quer conversa com o do Lula, tantas foram as tentativas de diálogo, da parte deste, recusadas pelo primeiro. Assim, precisamos pensar quais outros caminhos trilhar.
É claro também que a briga não é para apoiar o golpista Bolsonaro, mas sim contra iniciativas autônomas do Brasil, como o PIX, o BRICS e, mais recentemente, o programa Mais Médicos.
Para acabar com quaisquer vestígios de autonomia, uma opção seria elaborar uma PEC prevendo passarmos a ser o 520 Estado Norte-Americano, respeitando a prioridade do Canadá de vir a ser o 510! Se o agente laranja não aceitar esta proposta, podemos ampliá-la, convocando nossos jovens para lutar na faixa de Gaza, ajudando Israel a perpetrar o genocídio! Poderiam, ainda, nossos bravos soldados ostentarem a suástica no uniforme, em homenagem àqueles que os atuais governantes de Israel copiam e assessor do Trump já elogiou. Provável que com esta proposta ele aceite ficar de bem conosco. E se não ficar?
Então, a mesma PEC poderia dizer que a língua pátria do Brazil passe a ser o inglês, prevendo ainda o prazo de dois anos para que todos alcancem o domínio do novo idioma, sob pena de serem considerados imigrantes ilegais e deportados para as prisões do Bukele!
Para garantir a superação de todas as rusgas com o grande irmão do Norte, a PEC proporia, ainda, o fim do programa Mais Médicos, e avançaria mais: acabaria também com o SUS, que seria substituído pelo STSB – Sistema Trump de Saúde do Brazil. Neste, todo e qualquer atendimento terá de ser pago e quem não tiver plano de saúde que se lasque. Afinal, o lucro será sempre mais importante que a vida! E, para agradar o agente laranja ainda mais, nomearia o Robert Kennedy Jr. definidor das diretrizes de atuação do STSB!
Creio que aprovando tal PEC a paz retornaria entre esses antigos amigos. Mas, e se ela não for suficiente?
Neste caso, temos de lembrar do conceito geopolítico que diz “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Assim, uma emenda ao texto da PEC declararia guerra permanente à China! Nossos sojicultores ficariam bravos, mas os suinocultores dariam pulos de alegria!
Mas, dirão alguns, com propostas tão ousadas e inusitadas, e tão contrárias aos interesses do Brasil – agora com S – seria difícil aprovar tal PEC. Para contornar essa possibilidade, um dispositivo da mesma diria que as emendas orçamentárias individuais passariam ser referenciadas em dólares. Não com o uso da taxa de câmbio, mas fazendo X bilhões de reais virarem X bilhões de dólares, e com a previsão de que o destino desses bilhões de dólares poderia ser, diretamente, os bolsos dos parlamentares, livrando estes de terem de inventar projetos fantasmas e pagarem pedágio a prefeitos, vereadores e cabos eleitorais. Para custear esse aumento de gastos, a mesma proposição determinaria o fim do Bolsa Família!
Embora contrária ao Brasil (com S) e aos brasileiros, a proposição seria rapidamente aprovada, certamente não com a totalidade dos votos, mas sim com folgada maioria!
Eduardo Fernandez Silva é Mestre em Economia pelo Institute for Social Studies da Universidade de Hague. Foi Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Autor.