
Amanhã começa a Assembleia Geral da ONU, e o Brasil terá um papel especial em dois pontos centrais desse encontro.
O primeiro: por que o Brasil sempre abre os trabalhos da Assembleia?
Muita gente não sabe, mas isso não está escrito em nenhum regulamento — é tradição. Desde a fundação da ONU, em 1945, poucos países se dispuseram a ser os primeiros a falar diante do mundo. Em 1947, o Brasil aceitou o desafio de ser o segundo Presidente da Assembleia Geral da ONU, e seu prestígio diplomático, em grande parte graças à Oswaldo Aranha, consolidou o privilégio de abrir a Assembleia até hoje.
O segundo: o tema que deve dominar a Assembleia este ano: o reconhecimento do Estado da Palestina por mais de 140 países.
Essa pauta conecta o presente diretamente à história. Em 29 de novembro de 1947, a ONU aprovou a Resolução 181, conhecida como o Plano de Partilha da Palestina. A proposta previa a criação de dois Estados, um judeu e um árabe, encerrando o mandato britânico sobre a região.
Naquele dia histórico, quem presidiu a sessão foi o brasileiro Oswaldo Aranha, no seu cargo de Presidente da Assembleia Geral da ONU.
Com habilidade política, ele adiou a votação por alguns dias, tempo suficiente para que países indecisos apoiassem a proposta. Foi uma jogada decisiva. O resultado abriu caminho para a criação de Israel em 1948 e inscreveu o nome do Brasil na história da diplomacia mundial. Até hoje, uma das principais avenidas de Tel Aviv homenageia Aranha.
Já a criação do Estado palestino, por sua vez, permanece pendente — e volta agora ao centro do debate.
Amanhã, quando o Brasil abrir a Assembleia Geral, o gesto terá um peso simbólico ainda maior: quase 80 anos depois, o mundo volta a discutir justamente a questão palestina — mas agora sob a ótica de seu reconhecimento como Estado.
Mais do que protocolo, essa tradição simboliza o soft power brasileiro: a capacidade de dialogar, articular e buscar caminhos em meio a dilemas globais.
A pergunta que fica é: estamos prontos para retomar esse protagonismo?.
Bruce Grant Geoffrey Payne Glazier
Membro Externo e Presidente do Conselho Consultivo da Fex Agro Comercial
Diretor da Valoradar
Trabalhou nos Bancos Lloyds, Singer & Friedlander e Mizuho e nas empresas Abril, Suez Environnement, TCP Partners e BTG Globa
Membro de Conselho certificado pela Fundação Dom Cabral
Mestrado em Finanças pela London Business School
Bacharelado em Economia e Ciências Políticas pela Northwestern University