Soube que, em São Paulo e em Itaguara, Minas Gerais, haveria uma Igreja Evangélica do Cuspe de Jesus. Se verdade, começa a faltar nome para tanta igreja que pipoca Brasil afora. Depois do cuspe, o que virá? O pipi?
Por falar em pipi, a PIPI – Primeira Igreja da Prosperidade Infinita – existe há alguns anos. Eu a fundei, inspirado por um pedreiro que criou sua própria igreja, “porque igreja está dando muito mais dinheiro que pedreiro”. Nunca vi tanta sinceridade num futuro pastor que, ao que me consta, teve muito sucesso. A minha PIPI é voltada ao prazer. Para seus adeptos, o gozo não tem limite. Quem doa mais aqui leva mais – do lado de lá evidentemente. Por exemplo, quem entrega apenas o dízimo ganha férias em Cancun ou Paris, depois de morto, é óbvio. Quem oferece o trízimo (agora há seitas que exigem 13% do salário do fiel) curte um mês nos resorts do nordeste brasileiro, bem mais caros que qualquer viagem ao exterior. Ao maior doador individual está reservada, no paraíso, uma tarde inteira na cadeira do Chefe, a contemplar de cima e por cima toda a grandeza do infinito. Alguém promete mais do que a PIPI?
O outro mundo tem uma grande vantagem: não possui Procon. Sem Procon, ninguém jamais reclamará se o produto comprado aqui foi entregue lá, a contento, de acordo com o compromisso. Muita gente de cá descobriu que a entrega por lá pode falhar sem qualquer problema, então partiu para o vale tudo. Promete o que imaginar, na maior cara dura. Nada se compara, porém, às vantagens apregoadas pela minha PIPI. Ela promete até sexo farto, seguro e gratuito entre os eleitos. Há bilhões de almas disponíveis para todas as transas, gente oriunda de todos os séculos, ninguém com Aids, dificuldade erétil, dor nas costas, ar desanimado e coisas afins. Uma proibição será observada: a Marilyn Monroe é minha. Bem, será minha, se os anjinhos dos irmãos Kennedy deixarem, assanhadinhos que continuam até hoje. Outra das vantagens da PIPI: os banquetes no além serão literalmente paradisíacos. Haverá 666 pratos (belo número, hein?) no almoço e no jantar, preparados no fogo eterno do andar inferior por todos aqueles que rejeitarem ou criticarem a PIPI. Se você quiser aderir à PIPI, não perca tempo. Traga sua declaração de renda. Viro o Leão com sonegação. Faça os depósitos em qualquer banco. Também aceito cartão de crédito. Parcelo em duas vezes. Como a esperança é a última que morre, morro de esperança de conseguir minha prosperidade infinita. Aqui na Terra, é claro. Às suas custas, caro seguidor da PIPI. Agradeço de antemão.
Luis Giffoni é Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras. Prêmio Jabuti
