
Atletas brasileiras reescrevem a história do Paratletismo mundial com recordes, medalhas e histórias de superação que inspiram mulheres em todo o planeta
O domingo, 5 de outubro de 2025, entrou para a história do esporte brasileiro. Pela primeira vez, o Brasil conquistou o título geral do Mundial de Atletismo Paralímpico, realizado em Nova Déli, na Índia. A delegação encerrou a competição no topo do quadro de medalhas com 15 ouros, 20 pratas e nove bronzes — 44 pódios no total. A China, até então a maior potência da modalidade, ficou em segundo lugar, com 13 ouros.
Mais do que números, esse resultado representa uma revolução silenciosa liderada por mulheres extraordinárias que desafiam limites diariamente. Entre as 50 atletas que representaram o país, as mulheres do Time Brasil protagonizaram histórias de garra, superação e força que vão muito além das pistas.
A Força Feminina que Dominou Nova Déli
Jerusa Geber tornou-se a brasileira com maior número de pódios na história dos mundiais de atletismo paralímpico. Agora, ela soma 13 medalhas, com sete ouros. Em Nova Déli, venceu os 100m e os 200m da classe T11. “Estou muito feliz. Dois objetivos concluídos com sucesso: o tetra nos 100m e sair daqui como a atleta com maior número de medalhas em mundiais… quero o penta, o hexa, quero tudo”, comemorou a velocista.
A ambição de Jerusa reflete o espírito de uma geração de atletas que não se contenta com o feito — elas querem mais, sempre mais. E essa mentalidade está transformando o cenário do Paratletismo Brasileiro.
Beth Gomes, veterana do lançamento de disco F53, manteve sua hegemonia e chegou ao tetracampeonato mundial. “É um campeonato que vai ficar marcado na minha vida, conquistando o tetra. Só tenho gratidão por todos que estão à minha volta, aos treinadores, à minha equipe multidisciplinar”, celebrou a atleta, demonstrando que a longevidade no esporte de alto rendimento é possível quando há dedicação e estrutura.
Mães Que Vencem: Maternidade e Alta Performance
Entre as histórias mais inspiradoras do Mundial está a de Thalita Simplício, velocista da classe T11 para atletas com deficiência visual total e mãe da pequena Liz. Thalita conquistou o ouro nos 400m e o bronze nos 200m, provando que maternidade e alta performance não apenas coexistem — elas se potencializam.
“Nossa sintonia transcende a pista. Apoio Thalita como atleta e admiro-a como mãe”, disse Lorena Spoladore, guia de Thalita e também medalhista mundial em salto em distância. A parceria entre as duas atletas exemplifica a força da sororidade no esporte.
Teresinha de Jesus Correia, no arremesso de peso da classe F57, também equilibra a maternidade de dois filhos com os treinos intensos. Para ela e outras mães atletas, a maternidade desenvolve qualidades essenciais: resistência à dor, recuperação rápida e gestão impecável do tempo.
Técnicos revelam que mães atletas condensam treinos intensos em períodos curtos, refletindo a necessidade de eficiência e foco absoluto. “Elas aprendem a ser muito resilientes e a suportar pressões que vão além das competições. A maternidade transforma a percepção do que é difícil”, explicam os treinadores.
Recordes Mundiais e Conquistas Históricas
Wanna Brito, amapaense tricampeã mundial, bateu duas vezes seu próprio recorde no arremesso de peso F32, alcançando impressionantes 8,49m. “Foi a primeira vez que alcancei essa distância”, disse ela, demonstrando que a superação de limites pessoais é uma jornada constante.
Antônia Keyla, piauiense que teve uma infância difícil, estabeleceu novo recorde mundial nos 1.500m T20 com o tempo de 4min19s22. “A corrida não é nada diante do que já passei… Agora eu sou campeã do mundo e recordista mundial”, relatou a atleta, emocionada com a conquista que coroou anos de trabalho árduo.
Maria Clara Augusto foi outro destaque feminino, conquistando ouro nos 400m T47 e prata nos 100m e 200m da mesma classe. Sua versatilidade nas provas de velocidade mostra a qualidade técnica das atletas brasileiras.
O Ecossistema de Apoio que Faz a Diferença
O sucesso dessas mulheres não é fruto apenas de talento individual. O Comitê Paralímpico Brasileiro implementou programas essenciais como a bolsa-maternidade, garantindo apoio financeiro e logístico a mães-atletas que conciliam treinos e cuidados com filhos.
Todos os 50 atletas que representaram o Brasil em Nova Déli são contemplados pelo Bolsa Atleta do Governo Federal. Atualmente, o programa patrocina 1.002 esportistas do atletismo paralímpico, entre as modalidades estudantil, nacional, paralímpico e pódio.
“O Brasil sai do eixo do sudeste e espalha o programa por todo o país”, destacou Yohansson Nascimento, vice-presidente do CPB e chefe da missão na Índia. A delegação foi formada por atletas de 18 estados diferentes, resultado de um trabalho descentralizado que envolve centros de treinamento e festivais paralímpicos em mais de 120 cidades.
Um Ciclo Promissor Rumo a Los Angeles 2028
O Mundial de Nova Déli superou até mesmo a campanha dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, quando a equipe brasileira trouxe 36 medalhas com dez ouros. “Quebramos o recorde de número de medalhas de ouro e o número total de medalhas dos Jogos Paralímpicos de Paris. Esse primeiro ano do ciclo para Los Angeles mostra que o Brasil vem muito forte”, celebrou Yohansson Nascimento.
Para as mulheres do Paratletismo, esse é apenas o começo. O exemplo de Jerusa, que aos 33 anos quer “o penta, o hexa, tudo”, mostra que a ambição feminina no esporte não tem prazo de validade.
Inspiração Para Todas as Mulheres.
As atletas brasileiras em Nova Déli não são apenas campeãs — são símbolos vivos de que limites existem para serem superados. Elas provam que ser mulher, ser mãe, ter uma deficiência ou enfrentar adversidades não são barreiras, mas parte de uma jornada que as fortalece.
Cada medalha conquistada, cada recorde batido, cada lágrima derramada no pódio carrega uma mensagem poderosa para mulheres em todo o mundo: você é mais forte do que imagina. Seus desafios não definem seus limites — eles revelam sua capacidade de superação.
Thalita, Jerusa, Beth, Wanna, Antônia, Maria Clara e todas as guerreiras do Time Brasil não carregam apenas equipamentos ou o peso da competição. Elas carregam sonhos, esperanças e gerações. São a prova de que o verdadeiro ouro não está apenas no pódio, mas na coragem de continuar, treino após treino, desafio após desafio.
Que essas mulheres continuem inspirando meninas e mulheres a acreditar: não existem barreiras que a força feminina não possa vencer. O topo do mundo é só o começo.
A campanha do Brasil no Mundial de Atletismo Paralímpico de Nova Déli consolida o país como nova potência da modalidade e inaugura um ciclo promissor rumo aos Jogos Paralímpicos de Los Angeles 2028.
*Artigo originalmente publicado no Gringas News, USA
Danielle Balieiro Amorim é Jornalista, Escritora e Ghost-Writer. Na Accenture, desenvolveu expertise em Comunicação, Gestão de Pessoas, PMO, Treinamento e Desenvolvimento, entre outras áreas. Escreve duas colunas semanais para o jornal Diário de Taubaté e para revistas brasileiras nos Estados Unidos. Tradutora dos idiomas Inglês, Português e Espanhol. Autora do livro infantil “As Aventuras de Ximin em: Floresta Mágica”. Podcast para crianças no Youtube: “Contos para Sorrir”.



