Os Trapalhões, o Apito e o VAR

Os árbitros de futebol do Brasil, já famosos pelas lambanças que proporcionam nos estádios, agora ganham fama [...]

Os árbitros de futebol do Brasil, já famosos pelas lambanças que proporcionam nos estádios, agora ganham fama internacional por mais um mau exemplo.

No campo de jogo e no VAR, numa ação conjunta, eles agora obrigam a torcida a comemorar um gol duas vezes. Um gol vale duas festas. Uma covardia.

Quando acontece um gol é natural e bonito ver a multidão explodir sua alegria em ruidosas comemorações. Mas, é triste constatar que, logo em seguida, aquela euforia espetacular foi substituída pelo silêncio e um angustiante suspense.

Tudo porque lá no gramado está o arbitro, parado, dedinho indicador apertando o fone no ouvido e evitando jogadores que tentam cercá-lo. Sua excelência, semblante fechado, está checando o lance do gol junto ao pessoal do VAR (Vídeo Assistant Referee).

“Valeu ou não valeu seu juiz?”, protestam os locutores no rádio e na TV.

O suspense só acaba após longa espera. Então, se o árbitro, com gestos teatrais, confirmar o gol a torcida explode sua euforia pela segunda vez.

Um gol, duas festas. Se for uma goleada de 5, então são 10 comemorações.

Em todas as partidas o “protocolo” (eles adoram falar esta besteira) se repete.  O incrível é que até mesmo naqueles lances em que as jogadas de gol acontecem sem nenhuma irregularidade e na mais absoluta normalidade, o ritual dos trapalhões do apito e do VAR tem repeteco.

Chatice maior é a que acontece nos lances polêmicos ou naqueles em que os árbitros de campo ou os de vídeo acham que houve alguma irregularidade. Ocorre nos pênaltis, impedimentos, expulsões por suposta jogada violenta, toques na área.

A conferência de tais lances, mais a ida do juiz à cabine de vídeo próxima ao gramado, tomam um tempo enorme em prejuízo da sequência da partida, atingindo ainda o emocional dos já desgastados atletas e virando um suplício para o público.

A situação torna-se ainda mais complicada quando árbitros e técnicos, amontoados na cabine do VAR, começam a apresentar na tela aqueles traçados de linhas azuis, roxas, amarelas, vermelhas, tentando apurar se houve impedimento ou não em lance que culminou em gol.

Fica parecendo uma aula de geometria tal a ânsia daquela turma em apurar, por exemplo, se o topete de um jogador ou seu dedo mindinho ou ainda se o biquinho da chuteira estavam ou não milimetricamente à frente de um defensor para concluir se houve impedimento ou não. Tudo em meio a uma demora terrível.

Mas a solução do conflito pode ser simples e rápida porque a recomendação é para que o gol seja validado caso ocorram sérias dúvidas e divergências em lances de grande complexidade.

E o que esperar da arbitragem e do VAR no Brasileirão que começou há poucos dias?

As expectativas não são nada otimistas porque elas esbarram na falta de critérios da arbitragem brasileira e na baixa formação técnica da maioria dos árbitros, por culpa exclusiva da CBF. É problema antigo.

Vale lembrar que bastaram apenas duas das 38 rodadas do atual campeonato para a repetição do lugar comum no Brasileirão: os estragos provocados por árbitros e pelo VAR no final da última semana. Dois foram os mais graves.

No jogo Sport/PE x Palmeiras, o juiz Bráulio Arleu de Araújo, 42 anos, militar, marcou um pênalti absurdo em favor do time paulista e que lhe valeu a vitória (2 a 1). O VAR preferiu o silêncio.

Em Internacional x Cruzeiro, o veterano juiz carioca Marcelo de Lima Henrique, 53 anos, fuzileiro naval, expulsou sem razão alguma o zagueiro Jonatham, do time mineiro, com 21m de jogo.

Apesar dos apelos dos jogadores para que Marcelo Henrique fosse checar o lance na cabine do VAR, ele não quis ir e nem o pessoal do VAR sugeriu que fosse. O Inter venceu (3 a 0).

Detalhe: os dois árbitros foram punidos pela CBF com o afastamento temporário, da competição.

Ora, a tecnologia do VAR foi criada para modernizar a dinâmica do jogo, fazer fluir seu ritmo e corrigir falhas e erros graves que podem acontecer durante uma partida.  No futebol europeu (sempre ele) o uso da tecnologia tem sido exemplar.

Arnaldo César Coelho, referência em arbitragem no Brasil, é favorável ao VAR mas tem feito reiteradas críticas à forma como ele vem sendo utilizado no futebol Brasileiro por “desvirtuar a sua proposta inicial”.

Ao Estadão ele comentou: “O VAR está sendo usado para analisar cada detalhe do jogo e não para correção de erros graves”.

E segue: “O VAR está deixando o jogo mais mecânico e frio, com interrupções que tiram a emoção do momento”.

“O VAR deveria ser usado apenas para lances óbvios, mas hoje estamos discutindo centímetros em impedimentos e toques involuntários na bola”, acentua.

Estas questões que Arnaldo César Coelho analisa, com a respeitável postura de quem foi reconhecido como um dos melhores árbitros do mundo, refletem o que sente o torcedor em um estádio ou quando assiste aos jogos pela TV.

Para que nossos árbitros ganhem respeito e admiração, é obrigação da CBF cuidar deles com o máximo carinho, proporcionando-lhes cursos permanente de atualização, aplicados por experts internacionais em questões de arbitragem.

E tem que ser para já. É urgente. Protegendo seus árbitros e capacitando-os tecnicamente para o desempenho da difícil tarefa que desempenham nos gramados, a CBF estará também protegendo o ora criticado futebol brasileiro.

Por sua vez, os árbitros de campo e do VAR, como categoria e há anos alvos de tantas e duras críticas, precisam cobrar da CBF o suporte indispensável para modernizar o trabalho que executam.
 
Estes árbitros devem também estar conscientes de que as lambanças que andam aprontando em campo interferem de forma grave e decisiva na pontuação dos clubes na tabela de um campeonato, desequilibrando a disputa.

Um clube punido injustamente pela arbitragem, que lhe toma pontos valiosos em uma partida, vai sentir lá na frente, no final do campeonato, que aquela pontuação perdida por culpa de juiz e VAR foi fatal para o destino do time na competição.

Ela pode impedir uma conquista de título, quem sabe uma vaga na Libertadores ou serviria até para evitar um rebaixamento. Um tremendo prejuízo para um clube.


Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor

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