Esqueça a ficção, quando o assunto é roubo de arte no século XX, a realidade nos entregou roteiros que fariam Hollywood parecer amadora. Estamos falando de disfarces policiais, castelos invadidos e tesouros inestimáveis que desapareceram para sempre.
A noite de meio bilhão de dólares (Boston, 1990)
Era a madrugada fria de 18 de março de 1990, feriado de St. Patrick’s Day. Enquanto a cidade de Boston (EUA) dormia após as festas, dois homens vestidos de policiais tocaram a campainha de serviço do Isabella Stewart Gardner Museum.
Eles não usaram explosivos, nem hackers. Usaram apenas a lábia. Convenceram os seguranças de que estavam respondendo a um chamado de distúrbio. Uma vez lá dentro, o golpe foi rápido: em 81 minutos, renderam os guardas com fita adesiva e circularam pelas galerias desertas como se estivessem fazendo compras.
Eles levaram apenas 13 peças, mas a seleção foi cirúrgica. Entre elas estava “O Concerto”, de Vermeer, uma das pinturas mais raras e valiosas da Terra. O valor total do saque? US$ 500 milhões. Até hoje, é considerado o maior roubo de propriedade privada da história em termos de valor. As molduras vazias ainda estão penduradas nas paredes do museu, como cicatrizes abertas, esperando o retorno de obras que o FBI jamais encontrou.
A sombra da Europa: Stéphane Breitwieser
Enquanto o FBI tentava desvendar o caso de Boston, a Europa enfrentava outro tipo de ameaça ao seu patrimônio artístico: Stéphane Breitwieser, um jovem francês que se tornaria um dos ladrões de arte mais prolíficos da história recente.
Entre meados da década de 1990 e início dos anos 2000, Breitwieser furtou mais de 200 obras de arte em museus e pequenas instituições europeias, sobretudo na França, Suíça, Alemanha e Bélgica. Seus métodos chamavam atenção: ele atuava durante o dia, em espaços abertos ao público, sem violência e sem destruição. Removia discretamente pequenas peças, como pinturas, esculturas e objetos decorativos e as escondia sob o casaco, saindo pela porta como um visitante comum.
Diferente da maioria dos ladrões, ele não vendia nada. Guardava tudo no quarto da casa onde vivia com a mãe. Quando foi preso, em 2001, as autoridades encontraram um acervo considerável mas não completo.
O final: Por que nunca foram recuperadas?
O que torna esses eventos do final do século XX tão dolorosos para a história da arte não é apenas o roubo, mas o destino das obras.
No caso de Boston, o mistério permanece: as obras sumiram no submundo do crime. Mas no caso do ladrão de Baden-Baden e sua coleção europeia, o fim foi brutal. Quando Breitwieser foi finalmente capturado, sua mãe, em um ato de desespero para destruir as provas contra o filho, tomou a pior decisão possível.
Ela não escondeu os tesouros. Ela os aniquilou.
Obras-primas de séculos passados foram picadas e trituradas no lixo da cozinha. Joias e artefatos históricos foram atirados nas águas turvas do canal Rhone-Au-Rhin. Estima-se que mais de 60 obras inestimáveis nunca serão recuperadas.



