Onde estaria o bode? Chegamos antes da hora?

Há uma agenda civilizatória, universal, no grosso, iluminista, mas será que já está na hora? [...]

Gente, o Bolsonaro não é o problema. A interdição aos temas que ele trouxe, com exageros e baixa sofisticação, é que constitui o problema.

O Bolsonaro abriu uma agenda e, nela, encontrou repercussão. Lembro de uma conversa de Obama com seu assessor, que escreveu um livro sobre os dois mandatos, e Obama perguntava: não será que chegamos antes da hora?

Em resumo, há uma agenda civilizatória, iluminista, de progresso, ciência, direitos humanos e civilidade, que nos atrai a todos, cidadãos urbanos e modernos. Mas tal desejo, esposado pela presidência dele, Obama, pode ter chegado antes da hora?

Há uma agenda civilizatória, universal, no grosso, iluminista, mas será que já está na hora? Os EUA mostraram que talvez não. Será que nós urbanos, civilizados, cultos, estamos pedindo ao mundo algo que ainda não tenha apoio completo? Estamos da hora?

E se for assim, o problema não será o Bolsonaro, nem o Trump, nós é que estamos pedindo uma civilização antes da hora. Há muito espaço para o Bolsonaro e Trump.

Nós, civilizados, estamos vivendo antes de nossa hora.


Edson de Oliveira Nunes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Berkeley. Foi Presidente do IBGE, Presidente do Conselho Nacional de Educação, e Professor Emérito da Universidade Candido Mendes. Autor