Em política, nada acontece por acaso.
Desde o início da crise entre os Estados Unidos e o Brasil, de 30 de julho até hoje, Trump parece ter desenvolvido as seguintes percepções e estratégias:
1- O que foi proposto por Eduardo Bolsonaro não deu certo
A sanções tarifárias e políticas de Trump ao Brasil não atingiram os seus objetivos, os da coerção da economia brasileira e das penalidades jurídicas. Bolsonaro não seria condenado, com a sua possível reeleição á Presidência, e possíveis benécias, aos Estados Unidos, que lhes foram possivelmente prometidas. Lula teria sua legitimidade diminuída, e o STF seria impedido de exercer a melhor prática em suas funções.
Nada disso aconteceu.
A economia vai bem, obrigado. No total de nossas exportações, 7% foram afetadas pelas tarifas, com o total de nossas exportações aumentando mais do que nossas importações desde o início das tarifas, devido aos mercados da China, União Europeia e Argentina. Por outro lado, sobe o preço do café da carne nos Estados Unidos, para o desagrado do consumidor americano.
Trump é uma pessoa de negócios, que as vezes leva as negociações além de certos limites, mas reconsidera se assim não efetivas, ou se assim de sua conveniência.
Lula se projeta na ONU, tendo também uma reunião com Zelensky em Nova Iorque, aumentado assim o seu cacife político e negocial.
2- É melhor ter Lula perto em uma mesa de negociação do que como um adversário afastado, até o momento vitorioso em seus fins
Trump tem interesse no Brasil.
O Brasil é a 10ª economia mundial, com forte agrobusiness e commodities, industrialização de ponta como a Embraer, e significativas reservas minerais e naturais.
O Brasil é o único país Ocidental significativo a fazer parte do hardcore do BRICS.
O Lítio, por exemplo, passa a ser um mineral estratégico no mundo, para os supercondutores e produtos eletrônicos neste século. O Brasil detém a segunda maior reserva de “terras raras” do mundo, China 37%, Brasil 18%, Rússia 10%, Índia 7%, Ucrânia 5%. É difícil para os Estados Unidos obterem os necessários metais maleáveis em outros países. Os Estados Unidos precisam do Brasil.
Pode ser que, neste processo de negociação, que será longo, que a própria aplicação da Lei Magnistsky a autoridades brasileiras seja reconsiderada. Não seria de se estranhar, a médio prazo, que Bancos Chineses possam vir a operar no Brasil.
Todo processo da negociação depende da capacidade de seus interlocutores, seus objetivos, e exequibilidade.
A ver como decorre o contato.


