
Estou comparando os movimentos culturais de três cidades, São Paulo, Rio e Belo Horizonte, que são as que mais conheço.
Marx indicou, pela primeira vez, os conceitos de valor de uso e valor de troca, terminologia amplamente utilizada hoje na economia em geral. O valor de troca é determinado pelo mercado, e o valor de uso pelo afeto, incluindo variáveis subjetivas. A cultura é um valor de uso.
Em São Paulo, existem duas culturas na cidade, que igualmente se destacam: da Zona Sul, e da Vila Madalena, ambas significativas em suas expressões. Na Zona Sul, a cultura econômica e acadêmica, representada pela USP e pela Faria Lima, ícones de desenvolvimento de ideias e projeções. Em Vila Madalena, a intelectualidade e o aconchego, com suas livrarias, bares e interação. Devemos muito a ambas.
No Rio, eu diria, dois polos: a “República Livre de Ipanema”, intelectualizada e assertiva, da qual tive a honra de participar; e Santa Tereza, com seus Arcos da Lapa, de genuína expressão no coração da cidade, onde, por muito tempo, reinou o “Disco Voador”; ambas complementares, na cidade que, embora seus problemas, “continua linda!”
Em Belo Horizonte, eram dois polos: o da Zona Sul, com o Colégio Estadual Central de Minas Gerais em Lourdes, e a antiga FAFI – Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras no bairro de Santo Antônio; e Santa Tereza, com ciclo notável de intelectuais, seus bares, e o Clube da Esquina, de Lô Borges, Fernando Brant, Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso, Flávio Venturini, e tantos outros. Ao longo dos tempos, a Zona Sul sucumbiu ao movimento imobiliário, onde o valor passou a ser o valor de troca. Talvez seja por isso que nós, da Associação dos Ex-Alunos do Colégio Estadual Central Milton Campos, lutamos tanto para que o Colégio não seja incluído na lista de imóveis para abater a dívida do Estado de Minas Gerais para com a União, com destino último, segundo veiculado em alguns órgãos de imprensa, para futuros empreendimentos imobiliários. Na nossa esperança que o movimento progrida, sempre!
Em um Estado que teve JK, Magalhães Pinto e Tancredo Neves, que o movimento e a memória se preservem.
Ricardo Guedes, ex-Aluno do Colégio Estadual Central Milton Campos de Belo Horizonte/MG, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago



