O homem do escafandro no bar (por Edson de Oliveira Nunes)

Submeto que estamos cansados de tanta inteligência, tantas análises e sabedorias, a interpretar o que está acontecendo, como se fosse um [...]

Submeto que estamos cansados de tanta inteligência, tantas análises e sabedorias, a interpretar o que está acontecendo, como se fosse um jogo de xadrez entre campeões, demandando analistas para explicar os movimentos. O STF fez isso porque esta jogada se casa com aquela outra da estratégia tal que sabe que o Presidente está fraco e seu objetivo verdadeiro é esculhambar a PF e todas as instituições. Já o Presidente fez isso porque sabe que precisa apelar aos seus seguidores para conter a estratégia do STF, já que entendeu o movimento, e também porque precisa responder aos movimentos do Presidente do Senado e da Câmara, que optaram por uma abertura do tipo tal, em resposta à presunção de que os outros iriam preferir uma estratégia à la Barishnikov, que requer aporrinhar a Rainha e talvez forçar um roque antecipado. E se ele xingasse muito, quem sabe, seria perfeitamente compreendido?

E isto tudo porque os Analistas da Globonews anteciparam os movimentos e consultaram os Cientistas Políticos que se dividiram, uns disseram que as instituições estão firmes e que não corremos perigo, outros disseram que a porcaria das instituições não está nada firme e que corremos perigos inimagináveis. E sobra inteligência e análise.

Não estou criticando os Analistas, os Jornalistas, os intérpretes, os meus caros colegas Cientistas Sociais que tanto admiro e com os quais aprendo. Estou apenas achando que estamos atribuindo sentido demasiado à ignorância abundante dos Atores, desde os “Mafiosi” dos “Onze Homens e um Segredo”, passando pelos mais de “Trezentos Picaretas”, carimbados pelo Lula, até mesmo aos Sábios das Crônicas dos Jornais e aos olheiros em geral.

Sonhei que devíamos acordar, isto sim, acordar, porque estamos mesmo perdidos, que nem cego em tiroteio, ou que nem a Baleia, naquelas coisas do Graciliano. Achamos, como Analistas e Intérpretes, que os Atores merecem intepretação e análise. E eles, quem sabe, esperando que a gente os analise e interprete, porque, em verdade, não têm a mais remota ideia do que estão fazendo. Nós estamos a interpretá-los e eles pedindo, por favor, que os interpretemos, porque não sabem mais o que estão fazendo, que nem a Baleia no foguetório. Não tem perigo de dar certo.

Lembro de uma crônica do Fernando Sabino na qual havia um camarada de “Escafandro” num restaurante de praia no Rio. Todo mundo agindo naturalmente e ignorando o “Homem de Escafandro”. Até que alguém, vindo de Minas, não aguentou e gritou:

– “Gente, tem um ‘Homem de Escafandro’ ali!”

Estou meio assim, que nem o camarada de Minas: – “gente, tem uma enormidade de ignorância e arrogância à solta.” Explosiva combinação.

Edson de Oliveira Nunes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Berkeley. Foi Presidente do IBGE, Presidente do Conselho Nacional de Educação. É Professor Emérito da Universidade Candido Mendes. Autor

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