O Futebol Brasileiro entre duas Copas

Encerrada em meados de julho, mas ainda repercutindo, a Copa do Mundo de Clubes não provocou maiores [...]

Encerrada em meados de julho, mas ainda repercutindo, a Copa do Mundo de Clubes não provocou maiores surpresas e teve o previsível resultado favorável ao futebol europeu. No contexto das futuras expectativas do futebol brasileiro, é a Copa do Mundo de Seleções, no próximo ano, que preocupa. E muito.

Apreensão que mostra sua realidade também a todo o futebol sul-americano: a do predomínio europeu de muitos anos, só quebrado pela Argentina em 2022, mas nem por isso tirando da Europa  – de seus clubes mais poderosos e ótimas seleções – a condição de liderança mundial no futebol.

E para a tentativa de se quebrar novamente essa hegemonia, vale muito salientar a dimensão da presença do treinador italiano Carlo Ancelotti no comando da Seleção Brasileira e o que se espera dele quanto ao objetivo de se alterar o modo de jogar da seleção para torná-la novamente vencedora.

Para esse propósito, o treinador terá que fazer a equipe adquirir novos conceitos de produção coletiva, praticados no futebol atual e que possam ser adaptados às características do estilo brasileiro e de seus atletas.

É claro que a vantagem europeia nas transformações que o futebol sofreu nos últimos anos está intimamente ligada ao poderio econômico dos seus clubes e, consequentemente, na capacidade de buscar craques em qualquer parte do mundo para moldar e montar suas equipes, também de conformidade com os conceitos de seus renomados treinadores.

Aí parece residir a grande função do treinador Ancelotti, que é fazer o atleta brasileiro entender que os sistemas de jogo, por não serem imóveis, estáticos, sempre evoluem para uma movimentação coordenada, ágil, intensa, rítmica, levando-se em conta também que um time não pode prescindir de atletas com capacidade de desempenhar outras tarefas e funções dentro de campo ou durante certos jogos..

O jornalista Paulo Vinicius Coelho, sempre atento às transformações táticas no futebol, diz com propriedade: “A maior diferença entre o jogo europeu e o brasileiro está na compreensão de que a defesa começa nos atacantes e o ataque se inicia com a capacidade de passe dos zagueiros”.

Por conhecer profundamente o estilo europeu de jogar e mesmo com o pouco que já viu no futebol brasileiro, espera-se que Ancelotti leve a seleção a exibir um estilo de jogo arrojado, bonito, alegre, e que faça o torcedor esquecer as trapalhadas dos últimos anos, que o privaram do prazer e da alegria de ver e vibrar com o futebol.

Afinal, a última Copa do Mundo conquistada pelo Brasil foi em 2002. No próximo ano, a Seleção Brasileira estará completando 24 anos sem ganhar o Mundial. E se perder a próxima, em 2026, a nova tentativa só em 2030. Aí serão 28 anos sem a Copa do Mundo.

Em um curto espaço de tempo, entre duas copas mundiais (a de Clubes, encerrada há dias, e a de Seleções, dentro de 11 meses) há muito a se fazer na busca por alternativas que provoquem uma inovação no nosso futebol, como um todo.

É por isso que tanto se espera e se torce para que Carlo Ancelotti transforme os rumos da Seleção Brasileira, pois assim ele também estará participando da própria renovação dos métodos e sistemas de jogo que se praticam nos clubes brasileiros, como mostrados por nossos times no Mundial de Clubes disputado nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que a Seleção Brasileira vive a grande esperança de renovação com Ancelotti, espera-se que parte da mídia também renove seu comportamento, muito criticado pelo que se ouviu e se viu na recente Copa do Mundo de Clubes.

Foi desagradável ouvir nas transmissões de TV, locutores, comentaristas e repórteres produzirem um jornalismo ufanista, de falsa realidade, na tentativa de induzir o torcedor a crer nas ilusões que produziam.

Como falta ainda um ano para a próxima Copa do Mundo, convém ao pessoal que orienta o jornalismo esportivo das TVs seguir os passos do treinador Carlo Ancelotti, que atua com seriedade para tentar renovar os métodos de qualidade e trabalho na Seleção Brasileira.

Os caminhos das inovações no nosso futebol não podem passar apenas pelas severas críticas que rotineiramente se fazem ao seu comando. Também precisam passar por aquela parte (felizmente pequena) da mídia esportiva que trata o futebol como coisa irrelevante.


Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor

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