
Nós, herdeiros das montanhas e das palavras, das minas de ouro e de poesia, declaramos:
Minas Gerais não é apenas um estado. É uma síntese. Uma pátria dentro da pátria. Do ciclo do ouro que forjou o corpo da nação ao minério que alimenta seu presente, da opulência dos barrocos à simplicidade dos Vales, nossa história é um microcosmo do Brasil. Em nossa geografia diversa, espelha-se a própria alma brasileira, com seus altos e baixos, sua grandiosidade e suas carências.
Fomos forjados na paciência das rodas de conversa, na arte de saber escutar. Nossa contribuição maior, da política à cultura, sempre foi a de buscar a convergência, tecer fios de união em um país de fios soltos. Aleijadinho esculpiu a dor e a fé em pedra-sabão. Drummond extraiu do comum a poesia universal. O Clube da Esquina harmonizou em melodias a dor e a esperança de um povo. Na política, José Bonifácio, JK, Tancredo Neves, Afonso Arinos e tantos outros não eram apenas mineiros, eram arquitetos do Brasil. Eles pensavam a nação com o ouvido no chão e os olhos no horizonte.
Mas hoje, perguntamos: Onde está nosso ouvido?
O tempo da escuta foi soterrado pelo ruído ensurdecedor das fakes. A profundidade do diálogo foi substituída pela superficialidade dos likes. A política, que deveria ser a arte do possível, o ofício das propostas, degenerou-se em espetáculo banal. Enquanto nossa cultura ainda exporta música e literatura que sensibilizam o mundo, nossa política, por vezes, parece exportar picaretas e comerciantes de ilusões.
Isto não é um lamento. É um grito de despertar.
Não acreditamos que “Minas já não há mais”. Acreditamos que Minas, assim como o Brasil, está adormecida sob um véu de instantaneidade e ruído. O fenômeno que nos assola é a crise da paciência, a falência da escuta, a ditadura do efêmero que corrói não apenas nossa política, mas nossa humanidade.
Por isso, conclamamos:
É hora de resgatar o Tempo.
Tempo para ouvir o outro. Tempo para pensar antes de postar. Tempo para construir propostas em vez de cultivar ódio. Em uma era de tik-tok, a verdadeira revolução é parar. É silenciar. É escutar o gemido das ruas, o sussurro das salas de aula, o clamor dos hospitais, a sabedoria dos mais velhos e o ímpeto dos mais jovens.
Exigimos uma política que rejeite a lógica dos likes e abrace a complexidade dos diálogos. Que traga de volta o frescor da inteligência, a coragem da criatividade e a solidez das ideias. Precisamos de novos “Inconfidentes”, não para derramar sangue, mas para semear esperança; de novos JKs para ousar construir; de novos Tancredos para unir; de novos Célios de Castro para humanizar.
Nossas Universidades e centros de pesquisa são faróis. Nossa economia é potente. Nossa cultura é vibrante. Falta reconectar essa força com a política, para que esta deixe de ser um palco de mediocridade e volte a ser uma oficina de futuro.
Que Minas Gerais, mais uma vez, seja a síntese da solução e não do problema.
Que do berço da Inconfidência, ecoe novamente um grito por liberdade: a liberdade da essência. Que nossa contribuição ao Brasil seja a de devolver a ele a arte da escuta, a paciência do consenso e a coragem de pensar grande.
O Brasil clama por ouvidos. E Minas, historicamente, sempre soube ouvi-lo.
Chega de ruído. Que comece o diálogo.
Roberto Carvalho é Autor e Poeta



