
Uma pergunta que ouço sempre é se eu tenho retorno em relação ao que escrevo, o que, de imediato, deve estar provocando no leitor financista a impressão de que a questão se refere a ganho pecuniário, donde vou logo informando: não. Esse retorno não tenho. Viveria mal de literatura quem dela pretendesse viver em um país que não lê. A pergunta que costumeiramente escuto é se tenho retorno do que escrevo, em termos de comentários, elogios, críticas. Quanto a esse aspecto, a impressão que fica é de que as pessoas consideram, e tratam, aquilo que o outro escreve da mesma forma como se relacionam com a vitória ou a derrota de alguém, uma amiga que reaparece com uma plástica, alguém que perdeu um dedo ou a ponta do nariz. Afinal, essas coisas não se comentam. Nem se pode perceber que viu, ainda mais em Minas.
Vai aí um certo exagero, claro, é divertido exagerar, e há sempre um ou outro que comenta. Existe, por exemplo, o leitor-colaborador, aquele que conta um caso e arremata: isso dá crônica!
Não faz muito tempo, uma amiga trouxe-me um artigo com a famosa provocação de que poderia dar crônica. O título era sugestivo: “Emoções: o segredo nas crônicas do tempo”, de Bárbara Marciniak. A autora era apresentada como “um canal em transe”, que vim a descobrir que se trata de alguém que se dedica à canalização de emoções. Que coisa é a vida. A gente vive de ser chamado a atenção. É aquele beliscão, o puxão de orelhas; se o pasmo é maior, o tapa. Isso é que desperta, faz agir, muda, às vezes, atitudes.
O artigo chama a atenção para o papel da emoção na existência humana. A bem dizer, eu diria que ele procura despertar o leitor para o valor da existência humana. Relata as vibrações que provoca em algumas pessoas a visita a antigas regiões da terra, como se alguma coisa ressurgisse do antigo. Aliás, a escritora vai além e sugere que a espécie humana perdeu literalmente os sentidos e sofreu, em certos aspectos, uma involução, ao substituir o prazer da emoção pelo temor a esse sentimento. A emoção dá medo e devo evitá-la.
As pessoas, segundo ainda o artigo, têm receio de seus sentimentos, ou porque não confiam neles ou porque têm medo do que possam ocasionar. Entregar-se aos sentimentos seria algo como deixar-se ir para o mais profundo dos lugares desconhecidos e então, diante de uma emoção, a pessoa puxa o freio. Prende-se. Daí vêm a limitação e frustrações. O certo, a autora opina, seria encarar abertamente os sentimentos, dar um mergulho, navegar em suas águas e aprender a controlá-los. Isso sim é ser dono da situação, e não a atitude de evitar, fugir, perder.
Acabo de ler o artigo e não resisto a um hábito: pego o dicionário. Emoção é o ato de mover. Reação interna e breve do organismo a um lance inesperado. Uma dor ou um prazer a acompanha. Um verbete de dicionário que bem poderia dar uns versos e que, no entanto, revela tanto. Emocionar é perturbar e se eu te impressiono e te comovo, eu te emociono, logo te perturbo. Ah, emoções! Dão medo e são muito perigosas.
Lindolfo Paoliello é cronista, autor de O País das Gambiarras, Nosso Alegre Gurufim e A Rebelião das Mal-Amadas.