
Na última coluna discutimos a urgência de um “PIX para a Inteligência Artificial” e a necessidade de uma inclusão rápida, simples e em escala.
O PIX mostrou que o Brasil sabe massificar tecnologia em tempo recorde.
Qual será a porta de entrada da IA para milhões de brasileiros?
O WhatsApp é o candidato natural. Com 147 milhões de usuários, o app já virou plataforma de serviços, de transferências bancárias a telemedicina. É inevitável que seja também o canal da IA.
O sucesso da LuzIA, que respondeu 42 milhões de perguntas em semanas antes de deixar a plataforma por custos, mostrou a demanda. Em paralelo, a Meta AI estreou no Zap e já soma centenas de milhões de usuários no mundo.
O apelo é claro: interface conhecida, em português, sem curva de aprendizado. Um caminho rápido para democratizar a IA em escolas, comunidades e pequenos negócios.
Mas o risco também é grande: dependência de uma big tech estrangeira, dados sensíveis fora do país, algoritmos opacos.
Inclusão, sim, mas sob regras definidas por outros.
E as nossas IAs?
Ao mesmo tempo, a inovação brasileira existe, mas segue fragmentada.
O Amazônia IA, primeiro modelo de linguagem nacional, foi treinado com dados locais e responde com conhecimento cultural.
O Sabiá-2, da Maritaca AI, já rivalizou com o GPT-4 em exames.
A NeuralMed acelerou diagnósticos médicos e reduziu filas de meses para zero.
O MemorizAÍ ajudou estudantes a melhorar notas com tutores digitais.
São sinais de capacidade, mas ainda sem escala.
Por que o capital nacional não aposta pesado? Vamos esperar o setor público?
No pano de fundo, cresce a disputa global. O governo brasileiro já suspendeu serviços da Meta por preocupações com dados. Nos EUA, Trump sinaliza apoio irrestrito às big techs.
De um lado, Brasília tenta impor soberania digital; de outro, Washington pressiona por flexibilização. No meio, empresas globais, com interesses privados.
O PIX mostrou que a inclusão em massa é possível, o Zap pode repetir o feito na IA.
No entanto, sem governança pública clara e protagonismo do capital brasileiro, corremos o risco de trocar a inclusão soberana por uma nova dependência tecnológica.
Daniel Branco
Economista pela UNICAMP, especializado em Marketing pela UFPR
Escreve sobre Inovação, Empreendedorismo e Impacto Social
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