
Há mais de 200 fobias catalogadas. Até parece que fobia é mania. Talvez seja mesmo. Sem que a gente desconfie, segundo os especialistas, temos muitas, uns mais, outros menos. Existem algumas tão comuns que até perderam a graça quando a gente admite que as contraiu. Aracnofobia, por exemplo, o medo de aranha. Quer coisa mais insossa? Ou então claustrofobia, o medo de lugares fechados. Soube que a maior parte das pessoas precisa ser sedada para fazer o exame de ressonância magnética, aquele em que os médicos nos prendem dentro de um tubo branco e bombardeiam nosso corpo com raios e um barulho que lembra as melhores músicas eletrônicas. Já a agorafobia é justamente o contrário. Muitos não suportam lugares abertos. Possuem parentesco com os siderófobos, que temem o espaço.
Há países que elegeram seu medo de preferência. Nos Estados Unidos, é a triscaidecafobia, o medo do número 13, tão arraigado que eles aboliram de seus edifícios o décimo-terceiro andar, pois ninguém quer morar nele. Os franceses e os belgas mais idosos ainda admitem uma certa teutofobia, o medo de alemães. Alguns comentaristas de nossa tevê tentaram inventar uma hermanofobia, mas os amigos argentinos, que vão de mal a pior, não mais inspiram fobia em ninguém.
Há um medo mundial, que leva milhares aos divãs todos os dias: a teofobia, o medo de Deus, o pavor ante a iminência de punição divina. Depois da proliferação de certas igrejas evangélicas com viés acentuadamente financeiro, quem quiser ficar rico basta abrir um consultório na porta de qualquer uma delas e oferecer tratamento para demonofobia. Caso você não seja acusado de ser o próprio chifrudo. Parece incrível, mas há gente com aversão mórbida a anjos, daí sua angelofobia. Na contramão, muitos temem demais o inferno e sucumbem à infernofobia. Esses medos derivam de outro, do qual poucos escapam: a letofobia, o medo da morte.
Até nas fobias existe discriminação. Há as exóticas, chiquérrimas, para poucos, como aurofobia, o medo de ouro, dinheirofobia, o medo de dinheiro, e a aeroplanofobia. Tenho uma que não posso confessar: a sografobia, que me faz tremer só de pensar e um dia acaba me matando. Ela é danada. A fobia, que fique bem claro.
Examinando com atenção a lista de fobias, devo ter umas vinte, pelo menos. Sonho em chegar a cinquenta. Quem sabe então eu contraia uma saudável fobofobia, o medo dos próprios medos, e me cure de todas?
Luis Giffoni é Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras. Prêmio Jabuti



