
Os goleiros tiveram, finalmente, seus justos momentos de grandes heróis e foram alvos de uma fartura de manchetes na mídia e de vibração intensa das torcidas.
Foram astros destacados aqui no Brasil, nas definições de classificados e eliminados nas semifinais da Copa Brasil (Corinthians campeão) e na surpreendente façanha do goleiro do ótimo time do PSG/França, o russo Matney Safonov, que defendeu quatro pênaltis consecutivos na decisão (por penalidades) da Copa Intercontinental de Clubes, contra o Flamengo, em 17 de dezembro último. Curioso é que Sofonov era goleiro reserva na equipe francesa.
Por aqui, as semifinais da Copa do Brasil (14 de dezembro) mostraram um show de goleiros. No Corinthians 1 x Cruzeiro 2, o bom goleiro Hugo foi herói do time paulista na decisão por pênaltis. Pegou duas penalidades decisivas. O veterano Cássio, do Cruzeiro, além de defesas notáveis nos 90min, pegou uma penalidade. Já Léo Jardim, do Vasco, saiu herói do Maracanã ao classificar seu time defendendo dois pênaltis, enquanto Fábio agarrou um.
No futebol, a vida do goleiro é muito curiosa. Sua arriscada missão técnica é impedir que o time rival faça gol; evitar que seja vazado nos 17,86 metros quadrados da área da trave que ele ocupa e cujas medidas são: distância entre os dois postes verticais (largura da trave) 7,32 metros, medidos internamente. E a distância do travessão ao solo (altura) é de 2.44 metros, medidos da borda inferior do travessão até a linha do chão, a linha do gol. No pênalti, a distância da marca do tiro até a linha do gol é de apenas 11m.
Às vezes, na sua sempre arriscada missão em campo, o goleiro passa momentos solitários na sua trave, que muitos locutores chamam de “casinha”. É quando o seu time tem pela frente um rival muito fraco e o goleiro fica ali sossegado, sem correr riscos e às vezes nem chega a sujar o uniforme. Passa os 90min sem ser notado pelo público e pela mídia.
Mas, na difícil carreira dos goleiros, há dois momentos bem difíceis. Um deles é quando se vê vítima do chamado “frango”, aquela falha que muitos não perdoam. Em questão de segundos, a maioria esquece os momentos anteriores das grandes atuações e o pobre do goleiro passa a ser o vilão da equipe, castigado pejorativamente pela alcunha de “frangueiro”.
Outro momento é quando em um clássico, por exemplo, ele passa a fazer sucessivas e espetaculares defesas salvando o seu time da derrota. Mas, lá na frente, nos instantes finais do jogo, um atacante – que até então pouco fazia em campo, recebe um passe e faz o gol salvador da equipe.
O atacante vira o grande herói da vitória ou do título, ganha todas as manchetes e em campo é cercado por um batalhão de repórteres que, com microfones e câmeras, buscam os mínimos detalhes do gol, enquanto nas arquibancadas a torcida festeja ruidosamente o feito do atacante.
E o goleiro? Sua atuação notável naquela partida cai rapidamente no esquecimento. Para muitos, inclusive na mídia, aquela sucessão de defesas memoráveis e que salvaram o time, foram apenas “milagrosas”. Apenas milagres?
Este é o destino que o futebol reservou ao solitário goleiro. Ou é “milagreiro” ou então “frangueiro”. Sua sina é guarnecer (e sempre bem) uma área de 17,86 metros quadrados para impedir que a bola, uma esfera com circunferência entre 68 e 70cm e pesando entre 410/450 gramas, penetre na sua “casinha”. E lembrando que, no pênalti, a distância em que ele está até a marca da penalidade, é de tão somente 11 metros.
Bem. Na verdade, analisando as circunstâncias de um jogo, a missão de um goleiro no futebol parece ser tremendamente difícil. Coisa mesmo de herói. Mas são pouco festejados.
Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor



