
José Josiano Teixeira, cidadão brasileiro de 37 anos, fingiu que morreu para trocar de mulher. Criativo Josiano, sem ter ido antes a nenhum lugar além de Conselheiro Lafaiete, bem perto de sua Catas Altas da Noruega, mandou espalhar que tinha morrido de acidente no Rio de Janeiro e ainda teve o desplante de distribuir santinhos “pela sua boníssima alma”.
Feito isso, correu para os braços de sua “segunda mulher”, em Barbacena, com nome novo, profissão desconhecida, e a paz dos que amam e se sabem amados.
A polícia é que interrompeu o idílio, detendo por bigamia José Josiano que queria viver uma nova vida e cometeu um erro em sua trama: para assegurar-se de viver bem, andou dando golpes na praça e acabou reconhecido, no arquivo policial, pela sua antiga esposa.
Pobre Josiano, sem sair dos limites provincianos da Zona da Mata de Minas, repetiu a saga de um ex-ministro inglês e, na mesma época, a aventura de um próspero empresário francês, muito noticiadas na imprensa. Faltou-lhe o bom gosto deste, que foi curtir o Taiti com a nova amada e o talento do outro, que hoje escreve novelas na Austrália, em companhia da ex-secretária.
O ex-ministro deixou os documentos junto a um corpo em decomposição na praia, o nosso Josiano foi procurar emprego em Conselheiro Lafaiete e ninguém soube por qual razão achou de escolher o Rio para o local de sua anunciada “morte”.
Não sendo nenhum Gauguin, Josiano não se metamorfoseou em pintor, como o empresário francês, e nem viu desabrochar um talento oculto, como o ex-ministro. Nada lhe ocorreu além de dar pequenos golpes, que foram seu transtorno e sua perdição.
Incrível, nestas três histórias, é constatar a identidade de procedimento entre um político poderoso, um empresário vitorioso e um matuto brasileiro. Todos “morreram” para renascer com a mulher que cada um entendeu ser o amor de sua vida. Pergunta-se o leitor, e eu me pergunto por que não recorreram ao remédio indicado por lei – o divórcio. Não diga que o nosso Josiano é ignorante, porque ficará sem resposta para o procedimento dos outros dois.
A história de Josiano nem teve um fim direito, que fim lógico para histórias, segundo Somerset Maugham, é a morte ou o casamento. Curioso como aquele romancista estabelece uma analogia entre uma coisa e outra: em ambos os casos, pressupõe que tudo o que devia ser dito, foi dito. A se entenderem assim as coisas, há que se aceitar a conclusão do cético Maugham, segundo o qual “quando depois de inúmeras vicissitudes, macho e fêmea finalmente se reúnem, a sua função biológica foi cumprida e o interesse passa à geração vindoura”.
Teriam nossos três heróis reagido a essa morte em vida? Quando a fluência e a renovação constante, que caracterizam uma relação fecunda, cedem lugar à estagnação e à rigidez, certamente dói olhar cara-a-cara e dize: acabou-se, não dá pé, não tem mais jeito! Sendo assim, já não há intimidade, nem interação. Entre estranhos, fica difícil explicar. E sem a perspectiva de um fim lógico, surge a solução de uma absurda viagem como a que empreenderam o ministro inglês e o empresário francês, ou mesmo o Josiano, coitado, em sua limitada condição de viajante.
Lindolfo Paoliello é cronista, autor de O País das Gambiarras, Nosso alegre gurufim e A rebelião das Mal-Amadas.



