
*Nota da Redação: Artigo publicado em 5 de setembro de 2014, para ser lido em qualquer época.
As ONGs associadas aos direitos civis, reunidas no Rio de Janeiro, para tratar do grave problema relacionado à eleição fluminense atual, admitem, desde o ponto de vista conceitual, a existência de um déficit democrático e de representação da democracia federativa brasileira. O cidadão de um estado federado, como o RJ é obrigado a votar. Mas a sua escolha individual é constrangida pelas elites partidárias que, ao controlar a pauta de preferências, determinam o seu leque de alternativas. O indivíduo tem que votar nas pessoas que os partidos oferecem. As ONGs considerem que isso é uma ofensa aos direitos civis. Os indivíduos deveriam poder votar em candidatos de outros estados se os políticos de seus estados estivessem abaixo do vexame aceitável.
Aqueles que se ocuparam, no período inter-eleitoral, de construir suas empresas eleitorais, ou partidos, constrangem os demais a votar nas listas de pessoas que lhes são apresentadas. Eu não estou querendo votar em nenhum dos candidatos a governador ou senador. Numa sociedade, aparentemente aberta, como a nossa, impera uma lei de ferro da oligarquia partidária, já diagnosticada por Pareto. Os cidadãos de bem só se dão conta disso à época das eleições, quando se deparam com o quadro triste de escolhas. No RJ ainda se conseguem boas escolhas para deputados federais e estaduais, mas governadores e senadores constituem uma lista teratológica, de uma oligarquia de ferro, repetindo o termo de Pareto, que parece nos desprezar a todos.
Nós, fluminenses, não temos para onde fugir, nem temos como nos desculpar. Deixamos que isso nos fosse imposto. Agora enfrentamos esta teratologia escatológica. A quem recorrer? Não vemos alternativa a não ser apelar para o governo federal. Pensamos na criação de um programa, à moda dos demais programas do governo federal, que bem poderia se chamar ELEITOR SEM FRONTEIRAS, pelo qual o governo federal nos deixaria votar em governadores e senadores de outros estados. Também nos ocorreu a BOLSA ELEITOR, pela qual a gente poderia viajar para outro estado e, com sorte, até para outro país, justificando a ausência.
Se nada puder ser feito, alguém teria que fazer algo, para nos ajudar a sair desta infernal destinação. Já fomos um grande estado. Já honramos o Brasil. Hoje, acho até que o envergonhamos. Envergonhamos porque somos a porta de entrada, a cara do país, o Rio de Janeiro. Não podemos entregar a este Exército Brancaleone a representação de quem somos. Ou podemos?
Edson de Oliveira Nunes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Berkeley. Foi Presidente do IBGE, Presidente do Conselho Nacional de Educação. É Professor Emérito da Universidade Candido Mendes. Autor



