Duas instituições: a Universidade de São Paulo e a Fundação Dom Cabral

Estou a falar de duas instituições, fundamentais para o país, em suas épocas e inserções: a Universidade de São [...]

Estou a falar de duas instituições, fundamentais para o país, em suas épocas e inserções: a Universidade de São Paulo, a USP, e a Fundação Dom Cabral, a FDC; dentre outras.

Joseph Ben-David, em Centers of Learning, chama a atenção para instituições que expressam o “espírito dos tempos”, aqui fazendo uso da expressão de Johann Herder, do querer e do fazer. Assim foram Harvard e a Universidade de Berlim; assim são a USP e a FDC.

A USP foi fundada em 1934 pela elite paulista, nas pessoas de Júlio de Mesquita, Armando Sales de Oliveira, e Paulo Duarte. Após a Revolução Constitucionalista de 1932, a USP foi fundada, nas palavras de Armando Sales de Oliveira, para a “investigação científica de altos estudos, de cultura livre, e formação das classes dirigentes”. E nas palavras de Júlio de Mesquita, “Vencidos pelas armas, sabíamos perfeitamente que só pela ciência e pela perseverança voltaríamos a exercer a hegemonia no seio da Federação. Herdáramos de nossa ascendência Bandeirante o gosto pelos planos arrojados. Que maior monumento poderíamos erguer do que a Universidade?” Para a USP, veio Gleb Wataghin, o melhor discípulo de Enrico Fermi, no contexto do desenvolvimento da Física alemã. Dali, saíram Cesar Lattes e Mario Schenberg, dentre tantos, o projeto do radar brasileiro na Segunda Guerra Mundial, nossa indústria eletroeletrônica, o ITA, a Embraer, hoje a terceira maior empresa do mundo em jatos comerciais. E toda a nossa ciência social, com a vinda de Levi Strauss e Roger Bastide, e seus discípulos, como, à frente, Fernando Henrique Cardoso. E a Escola de Medicina de Ribeirão Preto e a UNICAMP, com Zeferino Vaz.

A FDC foi fundada em 1976 por Dom Serafim Fernandes de Araujo e por Emerson de Almeida, seu primeiro Presidente por 35 anos e principal formulador do paradigma. Os objetivos da FDC, conforme seu site, são “contribuir para o desenvolvimento sustentável da sociedade por meio da educação, da capacitação e do desenvolvimento de executivos, empresários e gestores públicos”, em “soluções educacionais para o desenvolvimento empresarial”, como “referência em desenvolvimento de executivos e organizações”. Em suma, a Educação Executiva para Negócios, preenchendo uma lacuna no ensino brasileiro, dentro do princípio expresso por Antonio Batista, Presidente da FDC, referenciando-se à Emerson de Almeida, de que “o cliente também sabe”; moldando-se o conhecimento com a gerência, na formulação da interpretação e do fazer. Hoje, com 30 mil alunos ano, e já tendo atendido, direta ou indiretamente, cerca de 1 milhão de pessoas na sociedade brasileira, a FDC está em 5º lugar no ranking mundial do Financial Times em Educação Executiva. Sinto-me honrado em participar do Conselho Consultivo do Projeto Imagine Brasil da FDC, sob convite e liderança de Paulo Paiva, Viviane Barreto e Aldemir Drummond.

Leon Myssior, arquiteto e urbanista em seus recentes artigos, diz que “o estado civilizatório de um país e de suas cidades pode ser medido pela sua arquitetura”. E, assim, também, as instituições, eu diria. Na USP, a beleza de uma arquitetura mais clássica, do neocolonial Paulista, pós Semana da Arte Moderna de 1922. Na FDC, sedes de Belo Horizonte, e, recentemente, de São Paulo, o esplendor da arquitetura moderna, nos termos descritos por Marshall Berman em sua obra “Tudo que é sólido, desmancha no ar”, de que “Ser moderno é sentir-se de alguma forma em casa em meio ao redemoinho, movimentar-se entre suas correntes em busca de novas formas de realidade, beleza, liberdade, justiça, permitidas pelo seu fluxo ardoroso e arriscado”.

USP e FDC: o dueto da ciência e da tecnologia, por um lado, juntamente com a educação executiva e do fazer, por outro; complementares, âncoras para o desenvolvimento humano e social.

E mais, devemos nos lembrar, de que somos Portugueses, da língua da poesia, das descobertas, dos mares.

Como Santos Dumont.


Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e do Conselho Consultivo do Projeto Imagine Brasil da FDC

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