Como terminará a crise Trump e Brasil?

Quem causa a crise entre Estados Unidos e Brasil? Duas narrativas estão postas. A primeira é que a família [...]

Quem causa a crise entre Estados Unidos e Brasil? Duas narrativas estão postas. A primeira é que a família Bolsonaro é a responsável. A segunda é que a inabilidade do presidente Lula, mais a sua insistência nos BRICS permitiram a eclosão da crise. Se Eduardo Bolsonaro não estivesse nos Estados Unidos em diálogo constante com diversos atores americanos a crise não existiria, independente das atitudes do presidente Lula. Portanto, a família Bolsonaro é responsável pela crise.

Todavia, se Eduardo Bolsonaro desistir de influenciar o governo americano, a crise deixará de existir? Estou diante de uma incógnita. Prevejo que a família Bolsonaro seguirá com a sua estratégia de pressionar o governo Trump para que mais sanções atingiam o Brasil. Importante lembrar que Jair Bolsonaro deve ser preso até outubro. Portanto, este evento tende a incentivar Eduardo Bolsonaro a manter a estratégia, e, certamente, mais radicalizada.

O governo Lula seguirá mantendo a estratégia: Defesa da soberania, diplomacia e benefícios tributário e financeiro para setores econômicos atingidos pelas medidas de Trump. Muitos insistem que o presidente brasileiro ligue para o presidente americano. Vejo como atitude arriscada. Imagine se Trump agride verbalmente Lula? Ou diga algo que atinja as instituições brasileiras? O que Lula dirá? O contato entre ambos será adequado se as condições forem negociadas, ou seja, o diálogo deve ser respeitoso.

Até o instante, a família Bolsonaro não obteve benefícios. Desde a chegada de Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos ocorreram os seguintes eventos: 1) STF determina o uso da tornozeleira eletrônica por parte de Bolsonaro; 2) STF determina a prisão domiciliar de Bolsonaro; 3) STF define a data do julgamento de Jair Bolsonaro; 3) A anistia não será pautada no Congresso Nacional. As evidências mostram que o STF e os presidentes da Câmara Federal e Senado não se intimidaram com as ações do governo Trump. Portanto, a conclusão é simples: A estratégia da família Bolsonaro não está sendo eficiente.

Por outro lado, o governo Lula tem obtido dividendos. Vamos as evidências: 1) Surge a narrativa de defesa da soberania; 2) Governo Lula lança o Plano Brasil Soberano para proteger determinados setores da economia atingidas pelas medidas do governo Trump. Estes fatos possibilitam que: 1) Dificuldades do governo Lula não sejam abordadas pela oposição, como inflação, gasto público e insegurança pública; 2) Os governadores pré-candidatos à presidência da República são obrigados a defenderem, indiretamente, Trump e a família Bolsonaro. 

Se existia a remota possibilidade do presidente Lula chegar enfraquecido nas eleições de 2026, hoje não mais existe. Se existia a remota possibilidade de Jair Bolsonaro disputar a eleição presidencial vindoura, hoje não mais existe. Se existia a possibilidade da anistia ser votada no Congresso Nacional, hoje não mais existe. Portanto, o que ganha ou ganhou a família Bolsonaro em seguir incentivando Donald Trump a agir contra o Brasil?

Qual será o fim da crise? Trabalho com dois cenários plausíveis e um bastante remoto: 1) Cenário 1: Os presidentes Lula e Trump dialogam e chegam a consensos comerciais mínimos. A pressão contra as instituições brasileiras, cessam; 2) Cenário 2: As pressões comerciais e políticas do governo americano seguem através de mais medidas. O Brasil busca novos parceiros comerciais e evita o confronto; 3) Cenário 3: Militares americanos invadem o Brasil possibilitando grande crise entre ambas as nações.

O cenário 3, como bem já dito, é remotíssimo. Todavia, ele não deve ser descartado. Trago a seguinte informação: “Governo Lula acompanha com preocupação envio de militares dos EUA à América Latina” (O Globo, 18/08/2025). Esclareço que eles chegam com o objetivo de combater o narcotráfico.

*Artigo originalmente publicado no Jornal do Commercio


Adriano Oliveira é Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa Qualitativa & Estratégia