Como a China domina o mundo ou a arte de comer pelas beiradas

O chinês Sun Tzu faz sucesso dois mil e quinhentos anos depois de morto. Ele escreveu “A Arte da Guerra”, livro que [...]

O chinês Sun Tzu faz sucesso dois mil e quinhentos anos depois de morto. Ele escreveu “A Arte da Guerra”, livro que deveria se chamar “A Arte de Comer o Inimigo pelas Beiradas”. O livro faz tanto sucesso que tem até gente ganhando dinheiro ensinando essa manha para empresários.

Segundo Sun Tzu, a melhor batalha se vence sem disparar as armas, dobrando o oponente através da exibição de força e de organização. Em outras palavras, deve-se convencer o inimigo de que perderá a luta, caso ouse o enfrentamento.

Esta é hoje a estratégia usada pela China em seu relacionamento com o exterior. Aprendeu com seu próprio mestre. Sua pujança e poderio inibem desafios. Tornou-se a economia da qual o mundo depende para crescer.

Todos querem vender para eles. Possuem reservas trilionárias. Os chineses tiram proveito da situação. Pergunte ao Dalai Lama. Sob ameaça de retaliação, Pequim já obrigou muitos países a desconvidar o líder budista para visitá-los. Pragmatismo comercial.

Com tamanho trunfo na manga, Pequim adia para sempre a independência do Tibete, onde nascem os principais rios chineses, e, aos poucos, reabocanha Taiwan. Ao mesmo tempo, adquire empresas e terras em vários países. Sem que percebamos, em muitas fábricas e fazendas no Ocidente já se fala mandarim.

Em outra estratégia de Sun Tzu, a China destrói os parques industriais de muitas nações, inundando-os com produtos baratos. Não poupa os Estados Unidos ou Bangladesh, o Brasil ou a Alemanha. Tentará ela, no futuro, quando detiver o monopólio de milhares de artigos essenciais, impor os preços que bem entender?

Já se antevê, para os próximos anos, a transformação do país na maior economia global em valores absolutos, desbancando a norte-americana. Daí o medo do pernóstico Donald Trump: não quer cair para o segundo lugar enquanto for presidente. Fará de tudo para barrar o crescimento chinês. Até guerra podemos esperar.

A China será o inimigo público número 1 da Era Trumpete, ou Era Topete, sei lá.

Santo de casa faz milagre, sim. Os chineses que o digam. Comendo pelas beiradas, Sun Tzu vem ganhando a guerra para  eles. Sem um disparo. Por enquanto.

P.S. Para quem não gosta de ler, Sun Tzu também escreveu: “Quanto mais você ler e aprender, menos seu inimigo saberá”.

Luis Giffoni é Escritor, Membro da Academia Mineira de Letras. Prêmio Jabuti