
Os governos brasileiros, ao longo dos séculos, fizeram diversas opções na condução dos destinos de nossa Pátria Mãe e seu povo. Logo no seu descobrimento os portugueses não tiveram dúvidas, a Terra de Santa Cruz, sua colônia, seria provedora de matérias primas para a sede do Império. Levaram madeira, produtos agrícolas, minerais, especialmente o ouro e diamantes das Minas Gerais e tudo mais que puderam extrair e levar. Nada trouxeram. Enquanto os espanhóis, iguais colonizadores, instalaram em Lima, no Peru, em 1551 a primeira Faculdade das Américas, a São Marcos, os portugueses só permitiram a instalação da primeira instituição de ensino superior, no Brasil em 1825, quase três séculos depois. São as Faculdades de Direito São Francisco, primeiro em Recife, depois, São Paulo, após a Independência em 1822. Consideravam que o ensino e conhecimento eram bens estratégicos, privilégio da sede do Império. Nossos estudantes, filhos dos ricos, se quisessem estudar tinham que ir para Coimbra, onde eram aceitos a preços exorbitantes. Segue a história de nossa pátria subtraída.
Chegada a República, proclamada pelos antigos imperialistas, a opção foi fazer do país uma nação agrícola, levando para o interior os imigrantes que chegavam e foram incentivados ao trabalho rural. Nenhum grande investimento foi feito na educação, uma lamentável decisão dos governantes que o tempo comprova. Nenhuma política pública foi adotada para o desenvolvimento das pessoas, especialmente para os negros, que perderam casa e comida com a liberdade. Eram senzalas, mas tinham teto e sobra de comida da casa grande. Ficaram livres, mas não tinham nada, exceto o preconceito continuado. A elite, os barões do café, do gado e do ouro, mantiveram seus domínios e prestigio, ocupando os governos como melhor os negociavam. Continua a história da mãe distraída.
Vargas, com ajuda dos mineiros, toma o poder e cria, em nome dos pobres, leis trabalhistas que escravizam os trabalhadores. O patrão agora paga, além do salário mínimo ao empregado, impostos à nação pelo emprego criado. Coisa de gênio arrecadador, mas em nome do pobre. Uma pergunta que não cala: Qual a razão de pagar impostos ou taxas ao governo pela criação de um emprego? Muito estranho o trabalhador ter seu salário diminuído, para ter direitos da CLT e, ainda, ser grato ao ditador que se dizia “pai dos pobres”. Cria-se a jaboticaba Justiça do Trabalho. Assim vai seguindo a mãe sofrida.
Chega JK e uma luz se acende no fim do túnel. Ele vai a Paris, como Governador de Minas, na companhia de Francisco Campos, interessados que estavam no desenvolvimento do ensino e na renovação pedagógica. Convidam Helena Wladimirna Antipoff, russa e educadora a vir para o Brasil e implantar escolas de formação de professores, chamado curso Normal Regional. Helena fora aluna do Instituto Jean Jaques Rousseau, em Genebra, com formação em Psicologia. Bingo. Pelas razões que a lógica não explica ela aceita e vem, para Minas Gerais, mais precisamente Ibirité, e cria a Fazenda do Rosário. Com sua influência o Instituto de Educação do Estado se transforma no educandário que durante décadas foi a usina geradora de jovens professoras que mudaram a face do ensino mineiro. Sem contar a implantação do Instituto Pestalozzi, especializado em crianças excepcionais. A este tempo, na minha cidade, Santo Antônio do Monte, foi criada a Escola Normal Regional Nossa Senhora de Fátima, sob a direção da genial Mestra Maria Angélica de Castro, discípula de Helena Antipoff, curso que tive a honra de frequentar, base de minha formação acadêmica. A história da pátria segue iludida.
A partir deste século a educação brasileira foi vítima de orientação ideológica, gestores comprometidos com políticas que em nada acrescentam ao nosso desenvolvimento e com orientação pedagógica controversa. Nossa pátria mãe ainda espera governantes que se interessem pela educação como fator de crescimento. Sabemos que só ela e o conhecimento, transformam vidas. Ajudas sociais é remédio passageiro e assim deveria ser tratado. Nossa vergonhosa posição, no mundo desenvolvido, se deve à falta de investimentos na infraestrutura e nos profissionais da educação, como bem demonstra a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. A esperança não está perdida.
Nestor de Oliveira é Jornalista e Escritor