
Indiferentes ao posicionamento e às opiniões dos maiores craques do futebol mundial, de renomados treinadores que atuam nos grandes clubes do Planeta, das centenas de excelentes jogadores que atuam no Brasil e que atuam nos lamentáveis gramados do nosso futebol, os dirigentes dos cinco clubes da Série A do Brasileirão seguem na cruzada solitária em favor dos gramados de plástico de seus estádios.
Não miram nos ótimos exemplos da causa em favor dos bons gramados naturais que precisam, com urgência, ser implantados na maioria dos nossos estádios e em favor da qualidade técnica e individual no nosso futebol.
Os recentes protestos que estes cinco clubes – Palmeiras, Botafogo, Atlético Mineiro, Athletico Paranaense e Chapecoense – publicaram contra uma petição do Flamengo à CBF pedindo o veto aos gramados sintéticos e também contra as esclarecedoras matérias divulgadas nos últimos dias pela mídia – refletem claramente uma inexplicável má vontade quanto ao exame profundo do tema.
Além de má vontade, há ressentimentos, rivalidades clubísticas e muita acomodação por ser o sintético economicamente mais viável em razão do pouco desgaste e da possibilidade de grandes lucros por shows sucessivos, o que é inviável em gramado natural.
Então, ignorando tudo de positivo que a qualidade do futebol tem a mostrar em gramado natural, estes cinco clubes emitiram, na semana anterior, uma nota conjunta contestando as críticas aos gramados de plástico de seus estádios e “reafirmam sua posição em defesa da tecnologia, adotada de forma responsável e regulamentada”. Coisas bem discutíveis.
A nota comete um grave equívoco de avaliação quando, em certo trecho, faz uma comparação nivelando, por baixo, as vantagens dos pisos de plástico sobre gramados ruins do futebol Brasileiro. Diz a nota: “Também reiteramos que um gramado sintético de alta performance supera, em diversos aspectos, os campos naturais em más condições presentes em parte significativa dos estádios do país”.
O que Flamengo e outros pedem é exatamente acabar com as péssimas condições dos pisos naturais da maioria dos gramados dos estádios brasileiros em favor da unificação por perfeitos gramados naturais em todos eles (como ocorre no primeiro mundo do futebol). E também para eliminar de vez os gramados de plástico, pois é assim que o futebol de elevado padrão técnico se desenvolve no Planeta.
Sérgio Schildt, dirigente da Recoma (empresa especializada no Brasil em gramados sintéticos), ao fazer lobby em defesa do piso de plástico, considera inútil acolher-se a tese de unificação dos gramados naturais feita pelo Flamengo. Ele alega: “Um dos lados que não se sustenta é o financeiro e o técnico também. O Atlético Mineiro é o melhor exemplo de que se testou no modelo de gramado natural e ele se mostrou quase que inviável, se você considerar todas as variáveis de sustentabilidade. Nem todo mundo tem o dinheiro que o Real Madrid tem para fazer um gramado que você trata melhor do que a muitas pessoas”.
É curioso. Gramado natural “inviável” no clima de Belo Horizonte? Pode?
Bem. O Flamengo foi a Doha, no Catar, jogar o Torneio Intercontinental de Clubes. O gramado natural no estádio Ahmad Bin Ali tem condições tão impecáveis para se jogar futebol, é tão perfeito que jogadores do Flamengo confessaram dificuldades iniciais de adaptação a ele: “Conversamos isso no vestiário… não estamos habituados com esse tipo de campo no Brasil, então dificultou um pouco”, disse o atacante Everton Cebolinha. É mesmo impressionante.
Doha, capital do Catar, pais localizado no Oriente Médio, possui clima desértico, bem diferente do que acontece em Belo Horizonte. Mas tem gramado natural absolutamente perfeito para se jogar futebol em alto nível. Por lá, com certeza o lobby do plástico não teve sucesso.
Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor



