A Economia e as Ciências Políticas se aproximam (por Ricardo Guedes)

A Economia e as Ciências Políticas cada vez se aproximam mais. Os Prêmios Nobel de Economia deste ano de 2025 e do ano passado de 2024 assim indicam. [...]

A Economia e as Ciências Políticas cada vez se aproximam mais. Os Premios Nobel de Economia deste ano de 2025 e do ano passado de 2024 assim indicam.

Há algum tempo, a Economia era tida como uma área quase que “independente” das Ciências Sociais, a única matematizável, no desenvolvimento das equações da lei da oferta e da demanda. Essas teorias, entretanto, expressam mais conceitos e valores de sociedades específicas, do que assertivas universais. Arthur Stinchcombe afirma que em toda sociedade o mercado existe, segundo a lei da oferta e da demanda, dentro dos contornos culturais e dos valores de cada sociedade. Um modelo de dado país não é necessariamente aplicável a outro, e vice-versa, se seus valores não são compatíveis.   

Os Prêmios Nobel de Economia deste ano de 2025 vão para Joel Mokyr, Phillipe Aghion e Peter Howitt, que identificam as condições institucionais e históricas para o progresso tecnológico, na geração do “empresário Schumpteriano”, dentro do conceito da “destruição criativa”, na sequência da implementação de novas tecnologias e negócios, sintetizado em “A Culture of Growth: The Origins of the Modern Economy” (2016) de Joel Mokyr, e em “A Model of Growth Through Creative Destruction” (1992) de Phillipe Aghion e Peter Howitt.

Nas Ciências Sociais, Max Weber, em “A ética protestante e o espírito do capitalismo” (1904). foi um dos primeiros, se não o primeiro, a indicar a importância dos valores culturais para o desenvolvimento econômico. A Revolução Protestante, na quebra dos paradigmas do Catolicismo, separou o homem econômico da religião, legitimando o lucro e a prosperidade como ações racionais que beneficiam aos indivíduos e à coletividade. Mais recentemente, Samuel Huntington, em “O choque das civilizações” (1996), atribui à cultura e à religião a fonte básica dos conflitos políticos de agora e futuros, na contraposição às ideias de globalização dos conceitos liberais.

No ano passado, 2024, os Prêmios Nobel de Economia foram para Daron Acemoglu, James Robinson e Simon Johnson, que diferenciaram entre as sociedades e economias inclusivistas, que beneficiam a população, e as extrativistas, que se apropriam do lucro social. As economias inclusivistas resultam da imposição da população sobre às elites, compartilhando as decisões, na criação de instituições para a sua implementação, e no comprometimento da população para com as decisões tomadas, sintetizado em “Why Nations fail” (2012)

Nas Ciências Sociais, Werner Sombart em “Why there is no socialism in the United States” (1906), se refere ao pacto social dos Estados Unidos comparado aos países Europeus. Os Estados Unidos não teriam “socialismo”, mas porque “there is”, tendo atingido níveis econômicos e sociais que já satisfaziam aos cidadãos. Barrington Moore, em “Social Origins of Dictatorship and Democracy (1966), compara países como a Inglaterra, França, e Estados Unidos, à China e Rússia, com diferentes formatos de revolução e resultados sociais. Theda Scocpol em “States and Social Revolutions” (1979), estuda a França, Rússia e China, como revoluções que mudaram as instituições sociais, em uma antecipação dos atuais paradigmas.

A Economia e as Ciências Políticas se aproximam. Afinal, somos ciências irmãs, humanos que somos. Em verdade, a ciência é uma só.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago

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