
Max Weber em A Metodologia das Ciências Sociais diz que você tem que se colocar na posição do oponente, ou “entrar na cabeça do outro”, para entender o significado da ação social.
Os Estados Unidos e a Russia têm pontos de diferença, mas também pontos em comum. O mais significativo no momento, para se entender a Guerra da Ucrânia e a situação mundial, é a equivalência entre o conceito americano da “doutrina Monroe” e o conceito russo da “ameaça existencial”. Ambos os países apresentam estratégias defensivas e expansionistas. A “doutrina Monroe”, entretanto, é mais expansionista do que defensiva, e a posição russa da “ameaça existencial” é mais defensiva do que expansionista.
A Guerra da Ucrânia é antes de tudo uma guerra entre a Russia e os Estados Unidos, com a Ucrânia no meio sendo destruída em sua estrutura e com a vida de seus cidadãos, com a conta da guerra sendo paga pela Europa na falta de líderes fortes que pudessem ter impedido o ocorrido.
A “doutrina Monroe” foi implementada pelo Presidente James Monroe dos Estados Unidos em 1823. À época, os países das Américas encontravam-se em processo de independência, com reação política e militar por parte dos países europeus colonizadores. A “doutrina Monroe” estabelece que qualquer ato político ou militar contra países das Américas é considerado como um ato de guerra também contra os Estados Unidos. Em guerras, colonização e negociação, os Estados Unidos se apropriaram de 2/3 do território mexicano, representado 2/3 do atual território americano. A “doutrina Monroe” tem sido evocada por vários presidentes americanos, como Grant e Roosevelt. Na crise de Cuba, Kennedy evocou a “doutrina Monroe” impedindo a instalação de misseis nucleares perto de suas fronteiras mesmo ao risco de uma guerra mundial.
A política russa da “ameaça existencial”, conforme descrita pelo Prof. John Mearsheimer da Universidade de Chicago, expressa que qualquer instalação de mísseis nucleares em suas fronteiras é considerada como ato de guerra contra a Russia e passível de retaliação militar. Assim é na Ucrânia, adicionando-se a tendência expansionista da Russia.
A Teoria dos Jogos é um excelente instrumento na análise econômica e social. Em Adam Smith, as ações racionais individuais levam necessariamente a resultados gerais racionais. Na Teoria dos Jogos, ações individuais racionais podem levar a resultados irracionais para a coletividade, como, por exemplo, no acirramento de posições de líderes que dependem da radicalização de suas decisões para a sua legitimidade, levando os países à guerra.
Max Heirich em A Espiral do Conflito mostra de como problemas econômicos e sociais se transformam na decisão de poucos no crítico processo da espiral das decisões. A possibilidade da entrada da Suécia e Noruega na OTAN é fator que coloca em extremo risco a paz mundial, aumentando as chances de uma guerra nuclear.
Ricardo Guedes é Ph.D. pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus