
As COP acontecem e as emissões sobem! As reuniões, elas próprias, geram grande emissão de CO2. Por que até hoje não se adotou uma metodologia de fazer os encontros de forma menos danosa ao clima?
A conferência RIO 92 criou a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, e a primeira COP ocorreu em Berlim, em 1995. Na terceira, no Japão, foi criado o Protocolo de Kyoto, dito o primeiro acordo juridicamente vinculante; vale dizer, que “obrigava” os países a cumprirem suas determinações. Os EUA, à época os maiores emissores, recusaram-se a aderir ao acordo, inviabilizando-o. Não à toa o presidente dos EUA somente concordou em comparecer à Rio 92 após afirmar que o “modo de vida norte-americano é inegociável”. Ou seja, não se poderia questionar a razão básica do crescimento das assassinas emissões!
Desde Kyoto, a cada ano reúnem-se milhares de pessoas em algum local, conversa-se muito e vende-se alguma esperança. Enquanto isso, crescem as emissões! Não à toa, é cada vez maior a participação, nas COP, de lobistas das indústrias mais poluidoras. Que morram quantos morrerem, o importante é preservar nossos lucros! Para tanto, dá-lhe blá blá blá…
Para a COP em Belém, vemos notícias pescadas em diversos periódicos: em razão do calor e humidade na cidade, o Brasil mudou o código de vestimenta, deixando de exigir terno e gravata no evento! Por que só na COP, e não em todo o Brasil?
Lula se hospeda em barco e decreta GLO, evidenciando a insegurança presente: apenas em Belém?
Outra notícia diz que as emissões mundiais de GEE bateram recorde em 2024, que foi o ano mais quente jamais registrado. No Brasil, devido à queda do desmatamento, as emissões caíram substancialmente (16,7%), mas ainda assim o país não cumprirá suas metas informadas à ONU (NDC).
Entre os efeitos das mudanças climáticas está a falta e o excesso de água; este, como sentido no Rio Grande Sul, na Índia, na Alemanha e noutros locais; aquele, como ocorreu na Amazônia, na Cidade do Cabo, na Califórnia e ocorre hoje na Grande São Paulo, onde os reservatórios de H20 encontram-se com menos de 1/3 da capacidade! Apesar disso, dirigentes mundiais seguem conversando, conversando, e conversando…
Enquanto dialogam e postergam decisões urgentes e eficazes, na China a vila de Yucun, na província de Zhejiang, anteriormente marcada por mineração e fabricação de cimento, eliminou essas atividades e tornou-se a primeira “vila carbono zero”, demonstrando a viabilidade de se trilhar caminho diferente do usual. A notícia é da Folha de São Paulo. Enquanto os dirigentes conversam, algumas iniciativas, apenas marginalmente decorrentes das suas conversas, prosperam…
Na COP em Belém, as nações deveriam apresentar novas metas para acelerar a redução de emissões. Os EUA nem vão participar, a Europa, que já liderou, estagnou ou retrocedeu, e mesmo se todos os países cumprirem as metas anunciadas – o que parece improvável! -, o colapso climático não será evitado. Precisamos de mais conversas? Repetir a mesma experiência e esperar resultado distinto é exemplo de falta de inteligência, teria dito Einstein.
Enquanto conversam, as mortes em decorrência do calor continuam a crescer: a Lancet estima que entre 1990 e 2020 aumentaram 23% e atualmente são mais de 550.000 anualmente! Mortes decorrentes do calor são mais de 3% de todas as fatalidades em 26 países, segundo a revista The Economist. Na Guiné Equatorial, alcançam 7,4% e no rico Emirados Árabes Unidos chega a 6,7%! Os dirigentes vão continuar a conversar enquanto esperam que tal proporção se eleve, a ponto de provocar forte redução na população global?
Em resumo, são inúteis essas COP? Não, como mostra o exemplo da vila chinesa. Mas precisamos de dirigentes que apontem a insuficiência dos mecanismos atuais e, para se tornarem verdadeiros líderes, apontem caminhos alternativos eficazes para reverter a tendência desastrosa e dar melhor qualidade de vida a todos! Acreditar que novas tecnologias virão nos salvar não difere da esperança na volta de São Sebastião!!!
Eduardo Fernandez Silva é Mestre em Economia pelo Institute for Social Studies da Universidade de Hague. Foi Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados. Autor.


