A batalha contra gramados artificiais (por Erasmo Angelo)

Em nome do alto nível do futebol e da padronização dos gramados dos estádios brasileiros, o Flamengo deu a indispensável arrancada para que [...]


Em nome do alto nível do futebol e da padronização dos gramados dos estádios brasileiros, o Flamengo deu a indispensável arrancada para que os gramados artificiais sejam vetados no Brasileirão.

Atendendo pedido de sugestões feito pela própria CBF aos clubes, o Flamengo acatou a solicitação da Confederação para que enviassem contribuições visando ajustes no Regulamento Geral de Competições (RGC) e no Regulamento Específico de Competições (REC) do Campeonato Brasileiro/2026. O clube protocolou suas sugestões 24h após conquistar o campeonato nacional, dia sete último.

Nos levantamentos do Flamengo sobre o tema o clube indica que “não adianta apenas proibir gramados de plástico, mas também determinar um padrão de qualidade mínimo para os gramados naturais”. O clube reforça que “independentemente do estádio, o futebol brasileiro deve ser jogado de forma igualitária, dentro dos padrões internacionais mais rígidos, o que reforça a necessidade de regulamentação” quanto aos gramados. E mais: “O Flamengo entende que os gramados artificiais não oferecem condições adequadas para o futebol de alto rendimento”.

Embora a FIFA admita alguns estádios com o campo de plástico, ela não admite em nenhuma de suas competições (Copa do Mundo, Mundial de Clubes, copas de futebol feminino e das categorias sub) que os pisos sejam sintéticos, mas exclusivamente naturais.

Nenhum estádio da Champions League – maior e mais rica competição de clubes do mundo, usa a grama sintética. Nos campeonatos nacionais da Espanha, Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Holanda só se usa grama natural. Até aqui na América do Sul, nos campeonatos da Argentina, Uruguai e Colômbia o piso nos campos não é de plástico.

No Brasil, os estádios com gramados sintéticos para o Brasileirão de 2026-Série A são os do Palmeiras, Atlético Mineiro, Botafogo, Athletico Paranaense e Chapecoense, os dois últimos classificados na Série B.

Como não poderia deixar de ser, a posição do Flamengo foi logo rebatida pela presidente do Palmeiras, Leila Diniz, defendendo a condição de o estádio do clube, o Allianz Parque, ter grama artificial “O Palmeiras é um dos clubes da Série A com menor número de lesionados; portanto, as alegações feitas pela atual gestão do Flamengo não passam de fake news”.

A dirigente possivelmente defende o gramado de plástico porque sabe que os custos de manutenção são mais baixos e, principalmente, porque pode realizar shows e eventos à vontade sem maiores riscos de danos ao piso e lucro certo. Que a arte e a beleza do futebol se danem.

A direção do Palmeiras (e quem sabe a dos demais clubes que adotam o sintético) não deve ter dado a mínima atenção para a campanha de vários jogadores, entre eles Lucas Moura, Neymar, Gerson, Gabigol, Thiago Silva, Philipe Coutinho, Vegetti contra a grama de plástico.

Nas redes sociais eles divulgaram que: “A solução para um gramado ruim é fazer um gramado bom, simples assim; nas ligas mais respeitadas do mundo os jogadores são ouvidos e investimentos são feitos para assegurar a qualidade do gramado… trata-se de oferecer qualidade para quem joga e assiste… futebol profissional não se joga em gramado sintético”.

Bernardo Silva, craque da seleção de Portugal e astro do Manchester City, opina sobre o que é jogar em um excelente campo de grama natural: “Faz muita diferença… o nível de qualidade de jogo, de a bola andar rápido e de proteger os jogadores contra lesões, o gramado natural é sempre muito melhor”.

Treinadores renomados indicam que a receita, hoje, para o futebol de toques ágeis, extrema aplicação tática e obediência aos sistemas de jogo, intensidade e dinâmica das partidas, indispensável é a grama natural.

Pep Guardiola (treinador do City e um dos mais famosos técnicos do mundo), após jogo do seu time no gramado sintético em Berna/Suíça, ano passado, afirmou contrariado: “…99% dos principais clubes jogam em grama; caso contrário, a UEFA e a FIFA escolheriam jogar exclusivamente em pisos artificiais. É apenas senso comum”.

Leila Pereira e dirigentes dos demais estádios com gramados de plástico, deveriam se unir ao Flamengo, a clubes, treinadores e jogadores que pensam igual ao time carioca e adotar o “senso comum” de Guardiola. Ou seja, pelo fim dos gramados sintéticos e em favor da excelência dos gramados naturais em benefício da beleza e da qualidade do futebol.

Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor

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