As Radium Girls e o nascimento da segurança do trabalho

No auge da chamada Idade de Ouro do Rádio, radioatividade era sinônimo de futuro. Nesse contexto, ninguém estranhava quando jovens mulheres, muitas com apenas [...]

No auge da chamada Idade de Ouro do Rádio, radioatividade era sinônimo de futuro.
Nesse contexto, ninguém estranhava quando mulheres jovens, muitas com apenas 14, 15 ou 16 anos, aceitavam trabalhar pintando mostradores de relógios com uma tinta chamada Undark.

O trabalho parecia ideal: pintar números e ponteiros com uma tinta que brilhava no escuro. Era rápido, delicado e bem pago.

Havia apenas um detalhe “técnico”: para manter a ponta do pincel fina, elas eram instruídas a colocá-lo na boca.
A prática, chamada lip-pointing, economizava tempo e material.
A empresa não só permitia mas recomendava.

A empresa garantia: o rádio era seguro.

Não era.

Enquanto as funcionárias trabalhavam sem proteção, os laboratórios da própria empresa usavam chumbo, máscaras e pinças. A gestão sabia dos riscos, mas optou pelo lucro.

A primeira vítima reconhecida foi Amelia Maggia, que morreu aos 24 anos, em 1922, após perder dentes e ter a mandíbula e os ossos destruídos pela radiação. O quadro ficou conhecido como radium jaw.

Mesmo assim, a empresa seguiu em silêncio.

Grace Fryer, que começou aos 18 anos, apresentou os mesmos sintomas anos depois. Em 1925, um médico ligou a doença ao trabalho. Em vez de se calar, Grace decidiu processar a empresa.

A ação judicial foi lenta e cruel. Muitas mulheres já estavam morrendo quando conseguiram testemunhar. Em 1928, veio o acordo: indenização, tratamento médico e pensão vitalícia.

Foi a primeira vez que uma grande corporação americana foi responsabilizada por adoecer seus funcionários.

O caso abriu caminho para leis modernas de saúde ocupacional e, décadas depois, para a criação da OSHA, a agência federal de segurança do trabalho.

Grace morreu em 1933. A maioria das mulheres que enfrentou a indústria de Nova Jersey não viveu mais que dois anos depois da vitória judicial.

O caso marcou o momento em que a ganância foi, pela primeira vez, obrigada a recuar.

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