Drama é ser treinador no Brasil (por Erasmo Angelo)

É curioso constatar que o clube mais poderoso do mundo, o Real Madrid, ande às voltas com um grande rebuliço disciplinar envolvendo alguns jogadores, entre eles [...]


É curioso constatar que o clube mais poderoso do mundo, o Real Madrid, ande às voltas com um grande rebuliço disciplinar envolvendo alguns jogadores, entre eles Vini Jr., e o treinador e ex-craque Xabi Alonso, 44 anos, que substituiu Carlo Ancelotti no comando do milionário time de Madrid.

Curioso porque no futebol europeu a eventual troca de um treinador em razão de fracassos técnicos de uma equipe (que não é o caso atual do Real Madrid), não é um fato corriqueiro como, aliás, acontece no Brasil.

Pelo contrário. Por lá, trocar o treinador é coisa rara e muitos deles ficam em seus cargos por muitos e muitos anos.

São vários e bons os exemplos. Um deles é notável. O escocês Alex Ferguson ficou 27 anos no comando do Manchester United, da Inglaterra (1986/2013). Conquistou 38 títulos e pediu para sair porque achou que estava na hora de se aposentar.

Exemplo mais atual é o do argentino Diego Simeone, 55 anos, excelente ex-craque (meio-campista) e que está no comando do Atletico de Madrid desde dezembro de 2011 e teve recentemente seu contrato estendido até junho de 2027. É o treinador mais bem pago do mundo, com salário anual de 182 milhões de reais.

O famoso Pep Guardiola, 54 anos, é treinador do Manchester City, da Inglaterra, há oito anos e sete meses. E segue firme no cargo apesar dos tropeços técnicos que atingiram seu time há duas temporadas.

Deslocando o tema para o lado de cá do Atlântico, vamos abordar o lado lamentável desta história, que é ser treinador no futebol brasileiro. O único técnico atual com mais tempo no cargo é Abel Ferreira (fará 47 anos em 22 de dezembro próximo). Assumiu no clube paulista em outubro de 2020 e está há cinco anos na função, período em que conquistou 10 títulos. Vai decidir a Libertadores neste sábado (29).

Em relação aos demais, a listagem é triste. Somente no Campeonato Brasileiro que está chegando ao fim, 21 treinadores foram demitidos. A revoada começou logo no início da competição quando o Fluminense exonerou Mano Menezes (63 anos), que hoje está no Grêmio mas pressionado para ser mandado embora.

O rebaixado Sport Recife dispensou três técnicos no Brasileirão. O recordista em fracasso foi Daniel Paulista, que em 19 jogos conseguiu só duas vitórias. Outro campeão de insucessos foi Fernando Seabra, do Bragantino/SP, demitido após sequências de 20 jogos e só três vitórias.

No festival de troca de treinadores, carreira fulminante teve Cláudio Tencati no Juventude/RS. Após somente sete jogos e três derrotas seguidas (sendo duas goleadas) foi afastado.

A dança interminável de treinadores demitidos tem um longo e doloroso histórico no Campeonato Brasileiro. Em 2003, 40 técnicos foram dispensados. No ano seguinte, 38. No modelo atual de 20 clubes na competição, o ano doloroso para os treinadores foi o de 2015, com 32 demissões.

Se examinarmos as edições de campeonatos brasileiros de 2003 até este ano, as destituições anuais de treinadores nesta competição sempre passaram de 20 por campeonato. Bem lamentável, pois são números que comprometem a reputação do futebol brasileiro.

Erasmo Angelo é Jornalista, formado em História e Geografia pela PUC/MG. Foi Redator e Colunista do Jornal Estado de Minas dos Diários Associados, e do Jornal dos Sports/Edição MG, cobrindo o futebol e esportes no Brasil e no Exterior, em Campeonatos Mundiais de Futebol e em Olimpíadas. Atuou destacadamente na TV e na Rádio, na TV Itacolomi, TV Alterosa, Rádio Itatiaia, Rádio Guarani e Rádio Mineira. Foi Presidente da ADEMG – Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais, na administração do Mineirão e do Mineirinho. Foi Editor da Revista do Cruzeiro. Autor

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